segunda-feira, dezembro 21, 2009



Assim me sinto e assim desejo que se sintam, amores amigos, quando lhes escrevo, com o corpo - que inclui e é a alma - reverberando em cada palavra.
Amor, verdade, justiça e beleza, que o corpo planeta ressoa com nossos desejos e nossas atitudes!
Beijo,

Anabel

quinta-feira, dezembro 17, 2009

O risco de viver um grande amor até o fim, é ter que lidar com o fim do grande amor. Separar-se no ápice, como propõe um querido poeta, pode ser uma solução para algumas pessoas, mas como se reconhece esse ápice? Tantos ápices tem o amor, quando se percebe a beleza e o desafio de compartilhar um sentimento profundo que não quer encontrar um ponto final, nem perder-se em reticências por prevenção ou medo de ter chegado a ele. Até mesmo o fim pode ser uma experiência de amor profundo, amor que se importa em dizer, amor, tenho que partir, sinto falta de navegar, sou-te grata por tudo que contigo aprendi, e te considero tão profundamente, que mesmo doendo quero ser-te leal como amiga.
E há amor maior e mais generoso que o de amigo?
Mas são raros os que transmutam amor em amizade, e chegam ao fim com transparência e gratidão. Em geral o que se vê é "eu não te devo nada". Ninguém deve nada a ninguém. Gratidão e consideração são interpretadas como dever satisfações quando não há liberdade interior, coragem para sustentar a decisão de partir, e encarar a possível dor que essa decisão pode causar. Porém a dor da verdade sara mais depressa, que a dor do artifício, da traição e da indiferença.
Por outro lado, como diria uma velha amiga meio amarga, quem se importa se alguém vai ou fica? Quem se importa se alguém sente isso ou aquilo? No fim das contas tanto faz. Que drama...
É... provavelmente, no tempo das estrelas, do universo, das galáxias, nada disso tem a menor importância, mas é por isso mesmo que me enche de compaixão a história de cada pessoa que encontro nesta vida. E a minha própria também, claro...

Anabel

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Tudo é possível

Paulinho Moska




Vou abandonar o que já sei


E acreditar no incrível

Pois foi por água abaixo aquele nosso plano infalível



E para suportar a dor de perceber

O seu desprezo ao me perder

Sei que preciso reinventar o amor

E colocá-lo novamente dentro de você



Quando eu modificar a imagem

Que aprisiona o seu pensamento

Você vai vencer o medo de viver e seus desdobramentos

E vai encontrar o caminho da beleza

Labirinto dado como perdido

E vai subir no alto de uma torre

Na alma do nosso castelo demolido



Tudo é possível, não há nada que se possa deter

O que era impossível acaba de acontecer



Eu sei que o Tempo é uma grande árvore

De galhos infinitos

E que o presente é o momento em que ela dá seu fruto mais bonito



E que amanhã tudo talvez

Nos apareça claro como foi no início

A mesma ilusão de amor nos faz saltar feliz

De um novo precipício



E então vamos sentir de novo

O gosto da eternidade

E confundir instantes de alegria com a real felicidade



Ou, sem percebermos,

Os dias irão passando como um trem sem estação

E lá estaremos nós com os pés no chão

Mas encostando o céu com a palma das mãos



Tudo é possível, não há nada que se possa deter

O que era impossível acaba de acontecer


imagem: Nasa, berçário de estrelas, hoje no Estado de SP

terça-feira, dezembro 15, 2009

Quando todo seu ser ama de verdade, não há dúvida, nem frieza, nem disfarces, nem mesmo os que você pensa que são seu eu real agora. Só um quente sentido de unidade, e a certeza de que tudo acontece como tem que acontecer. E a entrega é a única forma de estar e ser.

Anabel

sábado, dezembro 12, 2009

"A palavra e o ato vivem em confllito, e este geralmente vence."

"Bater à porta errada costuma resultar em descoberta."

"Se chamamos problema a uma fechadura enguiçada, não se sabe que nome convém à questão do destino do homem."

Carlos Drummond de Andrade, in O Avesso das Coisas, Aforismos, ed. Record

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Minha filha foi à exposição do Pequeno Príncipe na Oca do Parque Ibirapuera com a turma da escola, e trouxe um passaporte com lembretes dos valores que podem deixar o mundo melhor. Entre tantos, um do trecho que é um dos meus favoritos, quando ele encontra a raposa:
"Eis o meu segredo - disse a raposa. É muito simples: só se vê bem com o coração. Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que fez tua rosa tão importante.
Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
Tu és responsável pela rosa..."
E há um pequeno mapa sideral dos planetas e dos valores que em cada um são aprendidos pelo Pequeno Príncipe.
Passaporte para a vida.
Também vou visitar!!!

Anabel

PS: lembra do carneiro dentro da caixa?



"O Pequeno Príncipe na Oca":
Até 20 de dezembro em São Paulo-SP (Oca, Parque do Ibirapuera, s/nº, portão 3 - Pavilhão Lucas Nogueira Garcez; terças a sextas, das 9h às 19h, e das 10h às 20h nos finais de semana e feriados).
Preço: R$ 18 (inteira), R$ 9 (meia) e livre para menores de três anos e maiores de 60 anos.
Visitas monitoradas e agendamento escolar pelo telefone 0/xx/11 3883-9090 e/ou pelo e-mail atendimento@divertecultural.com.br

quarta-feira, dezembro 09, 2009

As alças da mente por Rosana Hermann

Rosana Hermann


O pensamento pode voar, mas a mente gosta mesmo é de uma prisão. A mente gosta de prender-se voluntariamente a tudo o que não muda, ao que permanece, ao que se repete e ao que é sempre igual. Por isso, a mente adora lembranças e memórias. Porque o passado já passou e não pode ser mais mudado. O passado é permanente. A mente acha isso o máximo. É como administrar uma empresa onde nada pode dar errado. O medo da mente é justamente este, administrar imprevistos.



Outra coisa que a mente ama de paixão é o padrão, porque como o nome já diz, o padrão não muda. Um metro, uma hora, o mesmo caminho para o trabalho, voltar ao mesmo restaurante e sentar à mesma mesa, são padrões que toda mente humana gosta de repetir. Ah, que prazer que a mente sente quando a bunda senta na mesma cadeira que sentou na aula anterior! A repetição dá segurança, porque cria a falsa ilusão de que nada vai mudar. E se nada mudar, nada de ruim poderá acontecer. Tudo será igual, com o mesmo final feliz, como antes.

Crianças adoram ver filmes mil vezes porque se sentem seguras, porque podem antecipar as próximas cenas (se na vida fosse assim...) e porque têm certeza de como a história terminará. Já as mentes adultas, especialmente as obsessivas em qualquer grau, adoram a matemática. A matemática é a única ciência exata e imutável. Enquanto a física e química, a biologia, por exemplo, estão sujeitas a variáveis da vida real, a matemática continua igual. Daí o fato de que toda mente obsessiva gosta de contar, manipular números. As contas são sempre exatas, não mudam. E se você contar todos os passos e chegar direitinho à padaria com seus mil passos, então, podemos concluir que sua mãe não vai morrer e nada vai dar errado no seu dia. Certo? Errado.



Errado porque a mente vive num mundo irreal. Mundo da mente é como caspa, só existe na sua cabeça. Tudo é mera ilusão. E, com perdão do excesso de realidade fisiológica, o mundo está cagando e andando pras suas ilusões mentais. Como o mundo já provou, uma batida de asas de borboleta na África pode influenciar mais a ocorrência de um tsunami na Ásia do que sua contagem de azulejos no banheiro. Porque a borboleta é real e seu pensamento, não.



O problema é que a mente não quer nem saber disso e provavelmente muitos já terão abandonado este texto nas primeiras linhas. Espertos, porque sabem que vou contar um segredo sobre eles: a mente fabrica alças. Sim, alças, onde ela, a mente, possa se apegar. Uma alça, como aquele putaqueopariu do carro, onde a gente segura a vida quando o motorista não é de confiança. Como o santoantonio dos jipes. A alça pode ser um nome, um amuleto, uma mania, uma repetição qualquer. A mente é chata, mas criativa, e assim, inventou a alça-sem-mala. Nesta alça ela se apega até a morte.

É uma crença, um dogma, uma frase feita, um chavão, um lugar-comum: "Angélica ficou mais bonita depois que teve filho"; "Vaso ruim não quebra Qualquer alça é boa pra mente: "A cadeia é a universidade do crime", "Direituzumanu só tem bandidu"... Se a mente se acha fraca, ela inventa uma alça para se sentir forte, tipo: "Sou feia, mas tô na moda".

A mente inventa que se a pessoa perder dez quilos vai ser feliz e tudo vai dar certo na vida. Troca nomenclaturas, pra se sentir por cima. Porque uma coisa é dizer que você tem TOC e outra coisa é assumir que você é um obsessivo chato, que ninguém agüenta conviver a seu lado e por isso você precisa de tratamento sério com remédio e tudo mais. A mente inventa alças pra não cair em si. Mas cair em si é a única forma de tomar consciência - primeiro passo para melhorar.

Portanto, remova todas as alças. Caia. Caia em si. Tá gordo? Tá gordo, então, vamos emagracer. Tá infeliz? Sai dessa, viva a vida, aproveite. Tá duro? 'Bora ganhar dinheiro'. Só não fique aí, com essa cara de passageiro do circular da eternidade, vendo a vida passar na fresta da janelinha de um puta ônibus cheio, segurando firme na alça do medo, pois você tem que dar o sinal e descer para a liberdade do imprevisível.

 
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Recebi esse texto de uma amiga querida, num momento de sincronicidade ímpar. Rosana Hermann entusiasma sempre!
 

terça-feira, dezembro 08, 2009


Aos poucos esvazio-me de ti
Desincorporo-te
Descarnifico-te
Abraço minha solidão
Sem solitude
Numa quase alegria
De ser eu mesma
De estar em mim
Visível em meus montes e ocos
Pulsante
Inteira na expressão de cada sentimento
Cada palavra
Sem medo de estar desperdiçando
Meu amor


Anabel

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

Mário Quintana




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Meu poeta do coração vem sempre soprar alento em lugares inesperados. Foi numa reunião para compartilhar e refletir sobre os dossiês do Núcleo Vocacional que ele me pegou assim desprevenida. Ficou ressoando, alterando minha frequência, como um banho de purificação...
Quando se está muito ferido é difícil ser generoso, mas depois de respirar e distanciar um pouco é possível ver as coisas por outra perspectiva, compreender melhor o tamanho da vida.



Eu sempre fui e serei uma borboleta muito livre, bobagem ficar marcando território em canteiros que não são para mim, por vaidade ou orgulho ferido. Além do mais, tenho meu jardim para cuidar.
Onde eu disse morra, leia-se viva, onde eu disse danem-se, leia-se sejam felizes.

Anabel

Foto de Raquel Moniz

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Escutatória

Rubem Alves

Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.


Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil.

Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.

Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:

Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.

É preciso também que haja silêncio dentro da alma.

Daí a dificuldade:

A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...

Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos...

Pensamentos que ele julgava essenciais são-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades:

Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.

Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência...

E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.

Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.

Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
 
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... e o que importa é ouvir a voz que vem do coração... Milton Nascimento

segunda-feira, novembro 30, 2009

A explicação eu já tenho... rsrsrs

Há ocasiões em que apenas sustentados pela energia da raiva podemos nos libertar de um jogo emocional doente, ou encarar uma ruptura. A raiva mobiliza, permite que levantemos do desmoronamento da tristeza, e sigamos em frente, para depois poder liberá-la também, sem endurecer no gelo da indiferença, reprimindo energia no lugar de ressoar com ela.
Só agora entendo verdadeiramente a manipulação do psicopata sedutor de que fala Lowen. É uma teia invisível, cheia de pequenos detalhes que aprisionam na ambiguidade. Quando a masoquista (complementar fundamental dessa relação) começa a afastar-se, ele vem e deixa uma insinuação pairando, como uma promessa, um beijo, uma palavra doce, uma florzinha, um mimo, e quando esta se mostra outra vez disponível, indiretamente, o sedutor vai minando, subestimando, pois tem que estar no controle, a relação não pode ser de iguais que se entregam, ele nunca se rende ao amor, e despreza quem se mostra vulnerável. Amar é como cair, soltar-se, e no âmago, isso o petrifica de medo.
A masoquista também reforça o jogo, como os ratinhos de Skinner, submetendo-se à dor na expectativa da recompensa que lhe alivia e dá um prazer momentâneo, parece amor de verdade por uns instantes, especialmente na relação sexual, mas pode ser qualquer outro aspecto da relação, ela também não se reconhece digna de reciprocidade, e no âmago despreza quem lhe dá valor, e se mostra vulnerável para entregar-se no amor.
Ambos prisioneiros desse jogo intermitente de dor-prazer, não por escolha, mas porque esse mecanismo foi a forma de evitar uma enorme dor lá atrás, na infância, e tornou-se um padrão de comportamento, ativado em determinadas circunstâncias, e mesmo alternando os papéis em certos momentos.
Ok, entendo muito bem agora. Mas acho que vou precisar de uma dose extra de fluoxetina pra sair dessa, além de  não ver, não ouvir, não sentir o cheiro, não entrar em contato de modo algum, como se trata um vício, enfim... e preciso de colaboração.
A minha raiva oscila... às vezes explode, quando considero o quanto fui usada, enganada, quanto me permiti sê-lo, e o quanto entrei no jogo de achar que a louca era eu, me autosabotando em meus verdadeiros sentimentos e minha intuição. Eu me enganei, querendo acreditar nas insinuantes mensagens duplas, que ele talvez encare como uma forma delicada de atenção, pois ele nunca finaliza, nem esclarece, ou assume nada com total honestidade, talvez em cartas, mas nunca no olho no olho. Faz parte de manter o controle, um modo de não permitir o distanciamento necessário. Nem a proximidade aterradora da sinceridade.
Tudo isso é carência. Carência de amor, medo da entrega.
Observe um casal dançando o tango, isso deve tornar mais claro o que digo.

Anabel

Imagem: Neli Neto

domingo, novembro 29, 2009

Um domingo nublado.
Descristalizando, fluidificando emoções, soltando expectativas, expectorando, e saindo daquela ressonância habitual, sinto meu corpo numa frequência caótica, enquanto outras novas começam a vibrar em minhas células. Meditando posso encontrar um eixo de onde olho sem me envolver. Afinal, tudo passa. Veja, meu bem, arco-íris já mudou de cor...



Anabel

sábado, novembro 28, 2009

Conversa biográfica, olho no olho, poesia e segredos, massagem, abraço, o espaço essencial refletindo o eu de cada um, a sincronicidade em Mário Quintana, Drummond, Lowen, Osho, sensação de conexão antiga, amiga, um momento tão generoso na brecha do combinado. A moça linda não tem noção do que perde dizendo não.
É, meu amigo, parece incrível, mas tudo isso pode dar muito medo! Imagina então em quem vive na normose cotidiana!?!
Eu agradeço.

Anabel

sexta-feira, novembro 27, 2009

A outra banda da Terra


Caetano Veloso


Amar


Dar tudo

Não ter medo

Tocar

Cantar

No mundo

Pôr o dedo

No lá

Lugar

Ligar gente

Lançar sentido

Onda branda da guerra

Beira do ar

Serra vale mar

Nossa banda da terra é outra

E não erra quem anda

Nessa terra da banda

Face oculta azul do araçá



Falar verdade

Ter vontade

Topar

Entrar na vida

Com a música

Obá

Olá

Brasil

‘Ta que o pariu

Que gente!

Cantuária e Holanda

Maputo Rio

Luanda lua

Nossa banda da terra é outra

Canadá Jamaicuba

Muitas gatas na tuba

Dos rapazes da banda cá

Gozar

A lida

Indefinidamente

Amar
 
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Mais uma vez as palavras do poeta dizem mais que qualquer tentativa de traduzir o agora. Há tantas outras bandas na Terra, e sempre novos e lindos canteiros para borboletas encantarem e sugarem novos e deliciosos néctares. Sempre é possível nascer para um sonho novo. Amar em uma nova banda.

Anabel

domingo, novembro 22, 2009

Eu acredito que só é possível construir um relacionamento maduro com o jogo aberto, a verdade sem medo, a admiração mútua, a parceria, o carinho, a guarda baixa, o respeito pelo sentimento do outro e o próprio, o desejo compartilhado, a lealdade, e não necessariamente a fidelidade sexual, a honestidade em cada momento, a flexibilização de pontos de vista, o "frescobol" no diálogo, a expressão sincera de sentimentos, o amor que abraça as diferenças e potencializa as individualidades. Um espaço de acolhimento.

Anabel

quinta-feira, novembro 19, 2009

Cuidando de mim, resgatando dos escombros flauta e flor, me encontro em fragmentos esparsos ainda pulsantes de outro tempo. http://anabelica.blogspot.com/2006/12/queda-muito-livre-o-abismo-vida-que-se.html

Por enquanto...


Anabel

terça-feira, novembro 17, 2009

Alguém cantando


Caetano Veloso


Alguém cantando longe daqui


Alguém cantando longe, longe

Alguém cantando muito

Alguém cantando bem

Alguém cantando é bom de se ouvir

Alguém cantando alguma canção

A voz de alguém nessa imensidão

A voz de alguém que canta

A voz de um certo alguém

Que canta como que pra ninguém

A voz de alguém quando vem do coração

De quem mantém toda a pureza

Da natureza

Onde não há pecado nem perdão




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A voz do coração, se sempre ela pudesse ter soado nas nossas palavras... o que cria o pecado é a mentira, porque é mentira o próprio pecado. E se há mentira, onde não soa a voz do coração, tem que haver perdão pra ela voltar a soar livre. Livre do medo.

Bel

domingo, novembro 15, 2009

Miedo

Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis

Tienen miedo del amor y no saber amar


Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz

Tienen miedo de pedir y miedo de callar

Miedo que da miedo del miedo que da



Tienen miedo de subir y miedo de bajar

Tienen miedo de la noche y miedo del azul

Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar

Miedo que da miedo del miedo que da



El miedo es una sombra que el temor no esquiva

El miedo es una trampa que atrapó al amor

El miedo es la palanca que apagó la vida

El miedo es una grieta que agrandó el dolor



Tenho medo de gente e de solidão

Tenho medo da vida e medo de morrer

Tenho medo de ficar e medo de escapulir

Medo que dá medo do medo que dá



Tenho medo de acender e medo de apagar

Tenho medo de esperar e medo de partir

Tenho medo de correr e medo de cair

Medo que dá medo do medo que dá



O medo é uma linha que separa o mundo

O medo é uma casa aonde ninguém vai

O medo é como um laço que se aperta em nós

O medo é uma força que não me deixa andar



Tienen miedo de reir y miedo de llorar

Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser

Tienen miedo de decir y miedo de escuchar

Miedo que da miedo del miedo que da



Tenho medo de parar e medo de avançar

Tenho medo de amarrar e medo de quebrar

Tenho medo de exigir e medo de deixar

Medo que dá medo do medo que dá



O medo é uma sombra que o temor não desvia

O medo é uma armadilha que pegou o amor

O medo é uma chave, que apagou a vida

O medo é uma brecha que fez crescer a dor



El miedo es una raya que separa el mundo

El miedo es una casa donde nadie va

El miedo es como un lazo que se apierta en nudo

El miedo es una fuerza que me impide andar



Medo de olhar no fundo

Medo de dobrar a esquina

Medo de ficar no escuro

De passar em branco, de cruzar a linha

Medo de se achar sozinho

De perder a rédea, a pose e o prumo

Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo



Medo estampado na cara ou escondido no porão

O medo circulando nas veias

Ou em rota de colisão

O medo é do Deus ou do demo

É ordem ou é confusão

O medo é medonho, o medo domina

O medo é a medida da indecisão



Medo de fechar a cara

Medo de encarar

Medo de calar a boca

Medo de escutar

Medo de passar a perna

Medo de cair

Medo de fazer de conta

Medo de dormir

Medo de se arrepender

Medo de deixar por fazer

Medo de se amargurar pelo que não se fez

Medo de perder a vez



Medo de fugir da raia na hora H

Medo de morrer na praia depois de beber o mar

Medo... que dá medo do medo que dá

Medo... que dá medo do medo que dá

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"O medo da morte não é medo da morte; é medo de ficar insatisfeito. Você vai morrer e não viveu nenhuma experiência ao longo da vida.
Não amadureceu, não cresceu, não floresceu. Você chegou de mãos vazias e vai partir de mãos vazias.
Esse é o medo!
(...) Existem os medos e existe essa ânsia constante pela busca. E eu espero que os medos não sejam os vencedores, porque qualquer pessoa que viva com medo não vive de verdade, ela já está morta. O medo faz parte da morte, não faz parte da vida. Risco, aventura, explorar o desconhecido, é disso que se trata a vida.
Então, tente entender os seus medos. E lembre-se de uma coisa: não apóie esses medos, eles são seus inimigos. Apóie o anseio, o ímpeto que está vivo dentro de você, torne-o tão flamejante que ele possa queimar todos esses medos e você possa empreender a sua busca."

Osho
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Dedicado a Jamil.

Lótus

O lótus é um dos fenômenos mais milagrosos da vida; por isso, no Oriente, ele é considerado o símbolo da transformação espiritual.
Buda está sentado sobre um lótus, Vishnu está de pé sobre um lótus, por que um lótus?
Porque o lótus tem um significado muito simbólico:
ele cresce do lodo.
Ele é um símbolo da transformação, é uma metamorfose.
O lodo é imundo, pode cheirar mal;
o lótus é perfumado e nasce do lodo fedorento.
Exatamente da mesma forma, a vida comum é assim como o lodo fedorento
- mas a possibilidade de se tornar lótus está escondida ali.
O lodo pode ser transformado, você pode se tornar um lótus.
O sexo pode ser transformado e pode se tornar samadhi.
A raiva pode ser transformada e pode se tornar compaixão.
O ódio pode ser transformado e pode se tornar amor.
Tudo o que você tem agora que parece negativo, assim como o lodo, pode ser transformado. A sua mente ruidosa pode se esvaziar e ser transformada, e pode se tornar uma música celestial.

Osho

Lenda da flor de lótus
Ah, e tinha a borboleta de Camburiú... o dia nacional de doação de órgãos e tecidos... depois chega cheio de beijos e carinhos, e mentiras e mais mentiras mais uma vez... a quem será que ele pensa que engana? A ele mesmo talvez... talvez à mais nova conquista...Quanto desperdício de energia! Agora acabou.

Anabel

sexta-feira, novembro 13, 2009

Como a gente fica dependente desta ferramenta! E que falta faz!!! Tava sem computador desde dia 30... um dia antes de completar meus 45. Achei que era um sinal pra refletir, reorganizar a vida, ver o que é essencial pra mim neste momento, esvaziar... e, embora seja muito saudável ficar meio desligada, dá uma ansiedade não ter como se comunicar a qualquer tempo, armazenar uma idéia (estou cheia de papéis desta semana!), mandar um recado que ultrapasse duas linhas, agradecer os parabéns que vi numa rápida passagem por um computador alheio... um tipo de isolamento. Mas abre um espaço para voltar-me para mim, sem pressa, nem pressão. Um espaço fundamental pra respirar e permitir-me esperar. Esperar não um resultado, mas o desenrolar dos acontecimentos, sem interferir até que algum evento me convoque. (Falo da vida pessoal, porque pra trabalhar tive que dar nó em pingo d'água...) Foi bom sair da ilusão de que de algum modo controlo a minha vida. Me organizo nela, direciono uma ou outra coisa, mas há muito que aprender a sustentar sem saber onde vai dar. Então, acho que fico um pouco mais humilde diante do universo. E sinto que me redimensiono mais encorpada nos meus 45 anos, e com mais coragem pra rever velhas atitudes que não funcionam mais. Contenção é tão importante quanto liberação!

Anabel

domingo, outubro 18, 2009

Cinzas da obra de Oiticica

Não sei descrever a dor desta perda, luto, num ano de tantas mortes de referências fundamentais da arte contemporânea. Mas esta é uma perda do acervo da cultura universal, que deveria permanecer quando o autor já se foi, a obra, para as gerações futuras, e presentes compartilharem.

Como? Como assim? Pegou fogo?!?!? Na casa do irmão? Como assim??? A conservação era cara para a Secretaria de Cultura? O irmão conservava assim tão bem, sem nem sequer ter seguro delas? Meu deus, como assim??????? Salvar o máximo que der é o mínimo que se pode fazer, mas, como todos - família e secretaria - puderam deixar as coisas chegarem a esse limite, como permitiram ao acervo de Oiticica correr qualquer risco de desaparecer do planeta? Não entendo. A morte é inevitável para os humanos, mas permitir a morte prematura das obras, é miséria total. Dedos e anéis idos.

Matéria do Estadão sobre a tragédia: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20091018/not_imp452413,0.php
Matéria da Bravo: http://bravonline.abril.com.br/conteudo/artesplasticas/hora-vez-helio-oiticica-467195.shtml
E do Guia de Assis: http://www.guiaassis.com.br/colunas/colunista.asp?id=7&materia=1393

Anabel

sábado, outubro 17, 2009

Adoro escrever para voce

Adoro ler suas cartas, seus mails sensíveis, construindo nossa intimidade dia a dia, criando um espaço onde reconhecemos nossos territórios, mas permitimos uma intersecção, sem medo de estar perdendo a identidade, permitindo-nos compartilhar os mais profundos desejos e medos, e desfazendo-nos deles. Adoro embarcar nas suas viagens filosóficas, musicais e emocionais. Adoro quando voce me ouve com todo seu ser, e me olha com admiração, e olha minhas escuridões com compreensão, e rimos juntos das nossas pequenezes. Adoro estar simplesmente ao seu lado, sem ter que provar que mereço, nem ter que justificar estar ocupando seu tempo. Adoro te receber. Adoro quando voce pede desculpas depois de uma dissonância, sem constrangimento, nem orgulho ferido. Adoro me desculpar, sabendo que é um ritual importante, mesmo sentindo que no fundo voce já liberou o deslize, até de minhas explosões mais dramalhonas. Adoro quando nos olhamos longamente. Adoro meu nome na sua voz. Adoro dizer seu nome degustando cada som que o compõe. Adoro não ter medo, com voce, de me machucar, nem de ser enganada. Adoro me entregar e sentir que estamos na mesma sintonia. Adoro quando voce reluta em desvencilhar-se do meu corpo de manhã, como se fosse dolorido. Adoro saber das tuas aventuras, e me sentir teu porto seguro. Adoro saber que nossas diferenças nos acrescentam, e não dividem. Adoro nossos infinitos enquanto duram. Adoro esperar, me preparar pra tua chegada, como a raposa do Pequeno Príncipe. Adoro quando voce me diz da saudade que sente de mim, e da ansiedade da espera. Adoro nossos planos malucos. Adoro voce olhando e me vendo em mim. Adoro a reciprocidade da nossa ligação. Adoro nosso laço, nossa teia, nossa rede. Adoro chuva, sol, dias nublados. Adoro escrever para voce. Adoro, adoro, adoro.

Anabel

quinta-feira, outubro 15, 2009

Pessoa Errada

Pensando bem
Em tudo o que a gente vê e vivencia
E ouve e pensa
Não existe uma pessoa certa para nós
Existe uma pessoa
Que se você for parar para pensar
É, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa
Faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é para na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira.
A pessoa errada é, na verdade, aquilo que a gente chama de
pessoa certa
Essa pessoa vai te fazer chorar
Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar seu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te enche de mimos pedindo seu perdão
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado
Mas vai estar 100% da vida dela esperando você
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer para todo mundo
Porque a vida não é certa
Nada aqui é certo
O que é certo mesmo é que temos que viver
Cada momento
Cada segundo
Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo,
querendo,conseguindo
E só assim
É possível chegar àquele momento do dia
Em que a gente diz: "Graças à Deus deu tudo certo"
Quando na verdade
Tudo o que ele quer
É que a gente encontre a pessoa errada
Para que as coisas comecem a realmente funcionar direito para
nós...

Luis Fernando Veríssimo

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Mas é preciso saber "jogar frescobol". Dando cortada e jogando com truque, não tem pessoa errada que dê certo.rsrsrs

quarta-feira, outubro 14, 2009

O seu amor

Doces Bárbaros

O seu amor
Ame-o e deixe-o
Livre para amar
Livre para amar
Livre para amar
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
Ir aonde quiser
O seu amor
Ame-o e deixe-o brincar
Ame-o e deixe-o correr
Ame-o e deixe-o cansar
Ame-o e deixe-o dormir em paz
O seu amor
Ame-o e deixe-o
Ser o que ele é
Ser o que ele é
Ser o que ele é.

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Andei tanto naquela tarde, talvez tentando fugir de mim, desafogar meu peito que doia, transmutar a raiva e a tristeza.
Entrei numa livraria que tinha muitos volumes espalhados em banheiras de promoção, e comecei a lê-los, escolhia um título e via o que dizia pra mim, naquele momento. Eles me falaram do prazer da solidão, das cartas do tarô, de deixar as coisas acontecerem conforme as leis do universo, de desapegar, de fazer diferente. Fiquei quase duas horas lendo trechos aleatórios... saí de lá bem mais leve. E me veio essa canção. E nada mais importava. Não queria mais lutar pelo meu desejo. Lutar, na verdade o torna mais forte, e cada vez que ele é constrangido, dói e aflora dores passadas, a frustração de não vivê-lo plenamente mais uma vez ressoa. Lembro de tanta coisa bonita também, mas o passado não é um lugar para morar, nem ser feliz.
Lembrei da palestra sobre o desejo em Spinoza. Não quero ser algoz do desejo de ninguém, nem do meu próprio. Melhor seguir um caminho diferente, por que repetir os mesmos dilemas, as mesmas cenas, as mesmas farsas?. Melhor seguir meu caminho.Deixar meu amor ir aonde quiser, livre para amar, ser o que ele é.


Anabel

sexta-feira, outubro 09, 2009

às vezes não acontece nada como a gente queria, como a gente sente que deveria ser, ou desejava que pudesse ser, ou planejava... mas é justamente nesses momentos de total falta de controle sobre o que acontece que, ao nos rendermos ao desconhecido, nos deparamos com as pequenas epifanias que a vida nos reserva. Como definiu Caio Fernando Abreu, "Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia."


Anabel

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"Um dia uma folha me bateu nos cílios - achei Deus de uma grande delicadeza." Clarice Lispector

domingo, outubro 04, 2009

Gracias



Querida, querida, querida Mercedes.
Tu voz, tu canto, tu pulso para siempre en mi alma.
La voz de la Tierra se calla por tu partida.
Pero la tuya aún hara eco por todos los tiempos en este planeta.
Todas las voces. Todas.
Ahora eres canción en el viento.
Gracias. A la vida. A ti. Nos has dado tanto...

Anabel

Avião

Djavan

Pode quebrar
Sofrer, cair, descer
Contorcer de dor
Não vou mais
Me prender a você
Fazer o mesmo show
Vou bater
Na porta da vida
Receber e pagar
Sem ter que me entregar
A ninguém
Seu muito pra mim
É pouco
Eu quero a paz
De viver solto
Vai dizer que sou outro
Sou não
Eu me cansei
De ser seu avião
Não vou voar não
Dessa vez...
Nem me conformar com pouco
Seu mundo pra mim é tolo


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Nunca tinha sentido essa música com tanta alegria antes!


Anabel

sábado, outubro 03, 2009

A criação nasce do encontro

Hoje realizamos o Encontro Regional da Equipe Sul 5 de Dança Vocacional, "A criação nasce do encontro", reunindo as turmas dos CEUs 3 Lagos, Navegantes e Parelheiros.
Contratempos à parte, foi um marco para todos nós, no que se refere ao compartilhar de saberes e linguagens, e à ampliação do olhar para as muitas danças que refletem a diversidade cultural da cidade de São Paulo, seus contextos, e as singularidades que um mesmo estilo de movimento pode acolher.

É muito gratificante participar dessa teia, dessa rede em permanente trama, que nos desperta a percepção de que somos produtores de cultura, que as diferenças funcionam como multiplicadores dos potenciais de cada pessoa, cada turma ou grupo, e que isso reverbera no coletivo, nos dando um sentido muito vivo de comunidade.
Os eixos do projeto Vocacional - transparência, parceria e sustentabilidade - ganham a dimensão de acontecimento, deixando de representar apenas ideais a serem alcançados, mas conceitos presentes no fazer diário, a própria ética desse fazer, na apropriação do espaço público com consciência e afeição.
Na roda de apreciação do processo emergiram referências e expressões como: integração, aprendizado em mão dupla, compromisso, renovação, apropriação, autonomia, função social, felicidade, igualdade, e amor. Amor! (e não fui eu quem disse!) "Muda tudo quando você coloca amor na dança", foi o que um rapaz da tribo hip-hop, o Panda, nos lembrou. Amor como presença cênica. Ou apenas como presença.
Um presente para todos os presentes.
Agradeço em especial à equipe deliciosa que coordeno, com as qualidades únicas de cada Artista Orientador que a compõe, alavancando, fomentando, semeando, aprendendo, ensinando, refletindo, trazendo idéias, buscando caminhos, abraçando e cultivando as danças que encontram, detectam, afloram, e lapidam em parceria com os Artistas Vocacionados de cada CEU, aos quais também agradeço sincera e profundamente.
Muito grata Adriana Gerizani, Josely Medeiros, Pedro Costa, Thais Ponzoni.
Um projeto público não é nada sem a honestidade, a sinceridade, o empenho e a alegria. Voces fazem a ponte. Voces são Ponte. E jorram fontes.

Grata, abraço.
Abraço.
Abraço.

Anabel

Green Grass

Tom Waits


Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me

Come closer don't be shy
Stand beneath a rainy sky
The moon is over the rise
Think of me as a train goes by

Clear the thistles and brambles
Whistle 'Didn't He Ramble'
Now there's a bubble of me
And it's floating in thee

Stand in the shade of me
Things are now made of me
The weather vane will say...
It smells like rain today

God took the stars and he tossed 'em
Can't tell the birds from the blossoms
You'll never be free of me
He'll make a tree from me

Don't say good bye to me
Describe the sky to me
And if the sky falls, mark my words
We'll catch mocking birds

Lay your head where my heart used to be
Hold the earth above me
Lay down in the green grass
Remember when you loved me

http://www.youtube.com/watch?v=acv_a6O8doo
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Claudia trouxe essa música para o ensaio na voz de Cibelle. Achei tão linda, melodiosa, melancólica... e agora descubro que Tom Waits é o autor. É muita ressonância... Meu corpo dói quando penso que podemos morrer e desperdiçar o amor que não tivemos tempo, ou não soubemos viver.
Anabel

sexta-feira, outubro 02, 2009

Uma perspectiva libertária e amorosa do professor, dada pelo sempre extasiante Edson Marques:
http://www.edmalux.blogspot.com/2005_09_21_archive.html

Leia e aproveite para passear por ele todo!
Bjo,
Anabel
Eu não preciso contar, mas quero dizer que me senti acolhida e escolhida. E isso é mais relevante do que quantidades. E é um presente pra mim agora.

Anabel

quinta-feira, outubro 01, 2009

Agora sinto que não há mais porque temer a queda. Ela é essencial para reconhecer o chão em que piso. Às vezes esqueço que sem ele não há caminho. Não que não doa...

Anabel

segunda-feira, setembro 28, 2009

na aldeia, na tribo

Ontem na aldeia, na tribo.
Celebrando. Confirmando do que somos feitos: poeira de estrelas a que Nhanderu e Tupã dão forma humana.
A força que os nomes carregam, que as palavras transportam, que a música multiplica e esparrama, penetrando e contaminando o corpo que se afirma ligado à terra, e se sabe templo e impermanente. Sabe da unidade. Da porosidade. E da importância dos limites, das diferenças. Do respeito.
Tenondé Porã: o futuro bonito, substituindo o melancólico Morro da Saudade. Nomes são sagrados, e são sagrações de um caminho. Guarani vivo.
E o compartilhar de saberes, que bonito presente! Entretecendo referências, mapeando as territorialidades no movimento do corpo: África na dança do coco, Alemanha no cabaré, Brasil na ciranda litorânea, São Paulo no espaço vazio-espaço ocupado, Tenondé Porã e Krukutu reverberando o antes da chegada Juruá.
Respiração.
Gratidão imensa em mim hoje.
Reverência profunda.

Anabel

sábado, setembro 26, 2009

Sobre Egon e Emin

Seu traço expressionista tremulando as carnes da mulher, em atitudes que revelam intimidade, ressoa em mim, assim como sua solidão, seu desejo de estar absolutamente transparente diante dos olhos todos, em nudez livre e simples. Prazer e dor. Sem photoshop, nem maquiagem. A carne pulsando, os fluidos corporais transbordando... o cansaço.

Anabel





Acima: Egon Schiele Liegender Akt mit angezogenem linken Bein
Abaixo: Tracey Emin, Red Girl, 2007. Acrylic on canvas

quarta-feira, setembro 23, 2009

Uma pena ter apenas um dia para refletir sobre os males da sociedade e do mundo, e agir diferente, mas já é alguma coisa. Ontem foi o dia sem automóvel, mas em Saõ Paulo quase nada aconteceu de diferente, ainda mais com chuva... na verdade o pico de lentidão do trânsito foi tão alto ou pior do que "normalmente". Temos o dia da luta contra o cigarro, dia da árvore (sobre o qual não vi nada acontecendo este ano), dia sem computador, dia (ou noite) de apagar a luz, e muitos outros de conscientização, mas não sei de nenhum "dia sem barulho", dia de tomar consciência da poluição sonora que está nos enlouquecendo tanto quanto a do ar... Um dia em que só se pudessem ouvir coisas harmoniosas e com poucos decibéis, a não ser os da natureza.
Um dia para limpeza de ouvidos, sem automóveis, sem máquinas, sem megafones, sem gritaria... alguma chance?
Anabel
Domingo viajei no tempo através do documentário do History Channel sobre o Pink Floyd - Dark Side of the Moon. Jamil que "aplicou", como diria um amigo daqueles tempos tão viajantes de vinil... E fomos nos descobrir em espaços comuns que nunca soubemos antes! Coloquei aí na seção vide-os do blog, olha lá.
Anabel

sábado, setembro 19, 2009

por hojes

só por hoje é uma afirmação que tanto os combatentes de um vício, quanto os curadores de Reiki utilizam para a firmar e confirmar diariamente uma escolha de agir num sentido diferente do automatismo.
Quantas vezes, e em que proporção temos consciência das nossas atitudes automatizadas, ditadas pelo ritmo diário da sociedade de consumo, pelos padrões de comportamento já estabelecidos, por conveniências, ou pelo medo, mais do que por reflexão, ou pela sinceridade do sentir?
Bem poucas ainda. É grande a insegurança diante de uma nova escolha. Dá medo de não ser mais aceito, de não ter muleta pra se escorar, de não saber o que será.
O fôlego para sustentar uma atitude nova tem que ser renovado dia a dia. Só por hoje. E se eu cair hoje, há um hoje no amanhã, onde posso firmar novamente minha escolha no presente. Sempre no hoje.
Então não me peça pra ajustar-me nos moldes do que se espera de uma mulher, uma artista, uma mãe, ou qualquer papel ou função sobre a qual se criaram estereótipos de perfeição, só por hoje. Só por hoje, arrisco ser única, ter meu próprio tempo de sentir e entender as coisas, errar e começar de novo. Só por hoje, eu sou eu.

Anabel

segunda-feira, setembro 07, 2009

Ah, meu amor sereno, terno, sedutor, acolhedor, divertido, prazeroso, amigo, pleno, parceiro: que bom que voce existe!

domingo, setembro 06, 2009

Me deixe mudo


Walter Franco

Não me pergunte
Não me responda
Não me procure
E não se esconda
Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo
Seja num canto
Seja num centro
Fique por fora
Fique por dentro
Seja o avesso
Seja a metade
Se for começo
Fique à vontade

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Encontrei Vanderlei já botando fogueira na lenha. Trouxe a trilha toda no ato e na lata! Por hoje fico por conta!

Anabel

quarta-feira, setembro 02, 2009

COMUNIDADE

COMUNIDADE

A busca por segurança no mundo atual
Zygmunt Bauman



Uma introdução ou bem-vindos à esquiva comunidade

As palavras têm significado: algumas delas, porém, guardam sensações. A palavra “comunidade” é uma dessas. Ela sugere uma coisa boa: o que quer que “comunidade” signifique, é bom “ter uma comunidade,” “estar numa comunidade”. Se alguém se afasta do caminho certo, freqüentemente explicamos sua conduta reprovável dizendo que “anda em má companhia”. Se alguém se sente miserável, sofre muito e se vê persistentemente privado de uma vida digna, logo acusamos a sociedade — o modo como está organizada e como funciona. As companhias ou a sociedade podem ser más; mas não a comunidade. Comunidade, sentimos, é sempre uma coisa boa. Os significados e sensações que as palavras carregam não são, é claro, independentes. “Comunidade” produz uma sensação boa por causa dos significados que a palavra “comunidade” carrega — todos eles prometendo prazeres e, no mais das vezes, as espécies de prazer que gostaríamos de experimentar, mas que não alcança mais.
Para começar, a comunidade é um lugar “cálido”, um lugar confortável e aconchegante. É como um teto sob o qual nos abrigamos da chuva pesada, como uma lareira diante da qual esquentamos as mãos num dia gelado. Lá fora, na rua, toda sorte de perigo está à espreita; temos que estar alertas quando saímos, prestar atenção com quem falamos e a quem nos fala, estar de prontidão a cada minuto. Aqui, na comunidade, podemos relaxar — estamos seguros, não há perigos ocultos em cantos escuros (com certeza, dificilmente um “canto” aqui é “escuro”). Numa comunidade, todos nos entendemos bem, podemos confiar no que ouvimos, estamos seguros a maior parte do tempo e raramente ficamos desconcertados ou somos surpreendidos. Nunca somos estranhos entre nós. Podemos discutir — mas são discussões amigáveis, pois estamos tentando tornar nosso estar juntos ainda melhor e mais agradável do que até aqui e, embora levados pela mesma vontade de melhorar nossa vida em comum, podemos discordar sobre como fazê-lo. Mas nunca desejamos má sorte uns aos outros, e podemos estar certos de que os outros à nossa volta nos querem bem. E ainda: numa comunidade podemos contar com a boa vontade dos outros. Se tropeçarmos e cairmos, os outros nos ajudarão a ficar de pé outra vez. Ninguém vai rir de nós, nem ridicularizar nossa falta de jeito e alegrar-se com nossa desgraça. Se dermos um mau passo, ainda podemos nos confessar, dar explicações e pedir desculpas, arrepender-nos se necessário; as pessoas ouvirão com simpatia e nos perdoarão, de modo que ninguém fique ressentido para sempre. E sempre haverá alguém para nos dar a mão em momentos de tristeza. Quando passarmos por momentos difíceis e por necessidades sérias, as pessoas não pedirão fiança antes de decidirem se nos ajudarão; não perguntarão como e quando retribuiremos, mas sim do que precisamos. E raramente dirão que não é seu dever ajudarmos nem recusarão seu apoio só porque não há um contrato entre nós que as obrigue a fazê-lo, ou porque tenhamos deixado de 1er as entrelinhas. Nosso dever, pura e simplesmente, é ajudar uns aos outros e, assim, temos pura e simplesmente o direito de esperar obter a ajuda de que precisamos. E assim é fácil ver por que a palavra “comunidade” sugere coisa boa. Quem não gostaria de viver entre pessoas amigáveis e bem intencionadas nas quais pudesse confiar e de cujas palavras e atos pudesse se apoiar? Para nós em particular — que vivemos em tempos implacáveis, tempos de competição e de desprezo pelos mais fracos, quando as pessoas em volta escondem o jogo e poucos se interessam em ajudar-nos, quando em resposta a nossos pedidos de ajuda ouvimos advertências para que fiquemos por nossa própria conta, quando só os bancos ansiosos por hipotecar nossas posses sorriem desejando dizer “sim”, e mesmo eles apenas nos comerciais e nunca em seus escritórios — a palavra “comunidade” soa como música aos nossos ouvidos. O que essa palavra evoca é tudo aquilo de que sentimos falta e de que precisamos para viver seguros e confiantes. Em suma, “comunidade” é o tipo de mundo que não está, lamentavelmente, em nosso alcance — mas no qual gostaríamos de viver e esperamos vir a possuir. Raymond Williams, atento analista de nossa condição comum, observou de modo cáustico que o que é notável sobre a comunidade é que “ela sempre foi”. Podemos acrescentar: que ela sempre esteve no futuro. “Comunidade” é nos dias de hoje outro nome do paraíso perdido — mas a que esperamos ansiosamente retornar, e assim buscamos febrilmente os caminhos que podem levar-nos até lá. Paraíso perdido ou paraíso ainda esperado; de uma maneira ou de outra, não se trata de um paraíso que habitemos e nem de um paraíso que conheçamos a partir de nossa própria experiência. Talvez seja um paraíso precisamente por essa razão. A imaginação, diferente das duras realidades da vida, é produto da liberdade desenfreada. Podemos “soltar” a imaginação, e o fazemos com total impunidade — porque não teremos grandes chances de submeter o que imaginamos ao teste da realidade.
Não é só a “dura realidade”, a realidade declaradamente “não comunitária” ou até mesmo hostil à comunidade, que difere daquela comunidade imaginária que produz uma “sensação de aconchego”. Essa diferença apenas estimula a nossa imaginação a andar mais rápido e torna a comunidade imaginada ainda mais atraente. A comunidade imaginada (postulada, sonhada) se alimenta dessa diferença e nela viceja. O que cria um problema para essa clara imagem é outra diferença: a diferença que existe entre a comunidade de nossos sonhos e a “comunidade realmente existente”: uma coletividade que pretende ser a comunidade encarnada, o sonho realizado, e (em nome de todo o bem que se supõe que essa comunidade oferece) exige lealdade incondicional e trata tudo o que ficar aquém de tal lealdade como um ato de imperdoável traição. A “comunidade realmente existente”, se nos achássemos a seu alcance, exigiria rigorosa obediência em troca dos serviços que presta ou promete prestar. Você quer segurança? Abra mão de sua liberdade, ou pelo menos de boa parte dela. Você quer poder confiar? Não confie em ninguém de fora da comunidade. Você quer entendimento mútuo? Não fale com estranhos, nem fale línguas estrangeiras. Você quer essa sensação aconchegante de lar? Ponha alarmes em sua porta e câmeras de tevê no acesso. Você quer proteção? Não acolha estranhos e abstenha se de agir de modo esquisito ou de ter pensamentos bizarros. Você quer aconchego? Não chegue perto da janela, e jamais a abra. O nó da questão é que se você seguir esse conselho e mantiver as janelas fechadas, o ambiente logo ficará abafado e, no limite, opressivo. Há um preço a pagar pelo privilégio de “viver em comunidade” — e ele é pequeno e até invisível só enquanto a comunidade for um sonho. O preço é pago em forma de liberdade, também chamada “autonomia”, “direito à auto-afirmação” e “à identidade”. Qualquer que seja a escolha, se ganha alguma coisa e perde-se outra. Não ter comunidade significa não ter proteção; alcançar a comunidade, se isto ocorrer, poderá em breve significar perder a liberdade. A segurança e a liberdade são dois valores igualmente preciosos e desejados que podem ser bem ou mal equilibrados, mas nunca inteiramente ajustados e sem atrito. De qualquer modo, nenhuma receita foi inventada até hoje para esse ajuste. O problema é que a receita a partir da qual as “comunidades realmente existentes” foram feitas torna a contradição entre segurança e liberdade mais visível e mais difícil de consertar.
Dados os atributos desagradáveis com que a liberdade sem segurança é sobrecarregada, tanto quanto a segurança sem liberdade, parece que nunca deixaremos de sonhar com a comunidade, mas também jamais encontraremos em qualquer comunidade autoproclamada os prazeres que imaginamos em nossos sonhos. A tensão entre a segurança e a liberdade e, portanto, entre a comunidade e a individualidade, provavelmente nunca será resolvida e assim continuará por muito tempo; não achar a solução correta e ficar frustrado com a solução adotada não nos levará a abandonar a busca — mas a continuar tentando. Sendo humanos, não podemos realizar a esperança, nem deixar de tê-la. Pouco resta fazer para fugir ao dilema — podemos negá-lo por nossa conta e risco. Uma boa coisa a fazer, contudo, é avaliar as chances e perigos das soluções já propostas e tentadas. Armados de tal conhecimento estaremos aptos ao menos a evitar a repetição de erros do passado; ou mesmo tentar evitar ir muito longe por caminhos que podem ser percebidos por antecipação como sem saída.
Não seremos humanos sem segurança ou sem liberdade; mas não podemos ter as duas ao mesmo tempo e ambas na quantidade que quisermos. Isso não é razão para que deixemos de tentar (não deixaríamos nem se fosse uma boa razão). Mas serve para lembrar que nunca devemos acreditar que qualquer das sucessivas soluções transitórias não mereceria mais ponderação nem se beneficiaria de alguma outra correção. O melhor pode ser inimigo do bom, mas certamente o “perfeito” é um inimigo mortal dos dois.






Março de 2000

segunda-feira, agosto 31, 2009

Se apenas querer estar juntos terminasse com todas as dificuldades de aceitar as diferenças... fluir em sintonia...
Talvez seja esse querer que falta no fundo... no fundo: o querer. Acreditar, confiar, entregar-me ao fluxo desse sentimento que precede o próprio querer. Mas a couraça tá cheia de reforços em brechas antes sempre abertas... devagar, haverá ainda tempo pra desmanchar o que não é verdadeiramente Eu? Desde que o início seja hoje.
Ontem vi fotos de um ontem não tão distante, e senti saudades de mim. Senti também muitas saudades de nós.

Anabel
Ótima reflexão sobre o julgamento: http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=09045
Elisabeth Cavalcante nos traz um pouco mais dos iluminados discursos de Osho.

sexta-feira, agosto 14, 2009

A arte de ser feliz

Cecília Meireles

Houve um tempo em que
minha janela
se abria sobre uma cidade que parecia
ser feita de giz. Perto da janela havia um
pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra
esfarelada, e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre
com um balde e, em silêncio, ia atirando
com a mão umas gotas de água sobre
as plantas. Não era uma rega: era uma
espécie de aspersão ritual, para que o
jardim não morresse. E eu olhava para
as plantas, para o homem, para as gotas
de água que caíam de seus dedos
magros e meu coração ficava
completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o
jasmineiro em flor. Outras vezes
encontro nuvens espessas. Avisto
crinças que vão para a escola. Pardais
que pulam pelo muro. Gatos que abrem
e fecham os olhos, sonhando com
pardais. Borboletas brancas, duas a
duas, como refelectidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem
personagens de Lope de Vega. Às
vezes um galo canta. Às vezes um
avião passa. Tudo está certo, no seu
lugar, cumprindo o seu destino. E eu me
sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas
felicidades certas, que estão diante de
cada janela, uns dizem que essas coisas
não existem, outros que só existem
diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a
olhar, para poder vê-las assim.

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Às vezes achamos que é preciso fazer muito esforço para merecermos ser felizes, e nem nos permitimos olhar para essa generosidade que palpita nas coisas simples... o sentido de espaço sagrado... mas ela está lá, aí, aqui, em voce, em mim, em nós, em tudo. Somos poeira de estrelas.
Anabel

sábado, agosto 08, 2009

A existência não pode ser forçada a ir com você

"Eu estava hospedado em uma pousada, numa aldeia. Era uma aldeia muito pobre, mas ela estava cheia de muitos cachorros. Todos eles se reuniam à noite ao redor da pousada. Devia ser seu hábito usual. A pousada era um lugar agradável - grandes árvores, sombra, e eles costumavam ficar descansando lá toda a noite. Eu estava lá e um ministro estava hospedado lá.

O ministro ficou muito incomodado porque os cachorros estavam latindo, criando muita perturbação. A metade da noite havia se passado e o ministro não dormira, então ele veio até mim.

Ele disse: "Você está adormecido?", Eu havia dormido rápido, então ele chegou perto de
mim, me despertou e disse: "Por favor, diga-me como você pôde cair no sono no meio de tanto barulho ao seu redor. Pelo menos vinte a trinta cães estão aí e eles estão brigando e latindo e fazendo tudo o que os cães normalmente fazem. Então, o que fazer? Eu não posso dormir, será difícil para mim. Amanhã eu tenho que viajar novamente. Eu partirei de manhã cedo. O sono não aparece, e eu tenho tentado todos os métodos que aprendi e ouvi a respeito - cantando mantra, rezando para Deus, etc. Eu tenho feito tudo, mas nada acontece, então o que fazer agora"?

Então, eu disse a ele: "Estes cães não estão reunidos aqui por você ou para perturbar você. Eles não estão cientes que um ministro está hospedado aqui. Eles não leram os jornais. Eles são completamente ignorantes. Eles não estão aqui propositalmente.
Eles não estão preocupados com você. Eles estão fazendo seu trabalho. Por que você está se deixando perturbar?

Então ele disse:
"Por que eu não deveria? Como não? Com tanto latido, como eu posso pegar no sono?"

Eu disse a ele; "Não lute com o latido. Você está lutando: este é o problema - não o barulho. O barulho não está perturbando você. Você está perturbando a si mesmo por causa do barulho. Você está contra o barulho, então você tem uma condição. Você está dizendo: "Se os cães pararem de latir, então eu dormirei". Os cães não ouvirão você.

Você tem uma condição. Você sente que se a condição for preenchida, então você pode dormir. Esta condição está perturbando você. Aceite os cães. Não faça uma condição que "Se eles pararem de latir, então eu dormirei". Apenas aceite.

Os cães estão lá e eles estão latindo: Não resista, não lute. Não tente esquecer aqueles barulhos. Aceite-os e ouça-os: eles são belos. A noite está tão silenciosa, eles estão latindo de modo tão vital. Apenas ouça. Este será o mantra - o mantra correto: apenas ouça-os.

Entã,o ele disse, "Ok, Eu não acredito que isto ajudará, mas como não há nada mais a fazer, eu tentarei. "Ele caiu no sono, e os cães ainda estavam latindo. De manhã ele disse: "Isto é milagroso. Eu os aceitei. Eu retirei minha condição. Eu ouvi. Aqueles cães se tornaram muito musicais, e eles latindo, seu barulho, não estava perturbando. Mais tarde, tornou-se uma espécie de canção de ninar e eu caí num sono profundo, por causa dela".

Depende da sua mente. Se você é positivo, então tudo se torna positivo. Se você é negativo, então tudo se torna negativo, tudo se torna amargo. Então, por favor, lembre-se disto - não somente com relação a barulhos, mas a respeito de tudo na vida: se você sente que algo negativo existe ao seu redor, vá e encontre a causa no seu interior. É você. Você deve estar esperando algo, você deve estar desejando algo, você deve estar criando algumas condições.

A existência não pode ser forçada a seguir de acordo com você.
Ela flui a seu próprio modo. Se você puder fluir com ela, você será positivo. Se você lutar com ela, você se tornará negativo e todas as coisas, todo o cosmos ao seu redor, se tornará negativo.

É apenas como uma pessoa que está tentando flutuar rio acima: então, a corrente é negativa. Se você está tentando flutuar contra a corrente num rio, então, o rio parecerá negativo e você sentirá que o rio está combatendo você - que o rio está empurrando você para baixo.

... O rio está completamente inconsciente de você, felizmente inconsciente. E é bom, de outro modo o rio iria para um hospício.
O rio não está lutando com você: você está lutando com o rio. Você está tentando flutuar corrente acima.

... A mente está sempre tentando ir contra a corrente, mover-se contra a corrente. Lutando com tudo, você cria um mundo negativo ao seu redor. Obviamente, isto tem que acontecer. O mundo não está contra você. Por que você não está com o mundo, você o sente contra você. Flua com a corrente, e então o rio ajudará você a flutuar. Então sua energia não será necessária. O rio se tornará um bote: ele levará você. Você não perderá nenhuma energia flutuando com a corrente porque uma vez que você flutue com a corrente você terá aceito o rio, a corrente, o fluir, a direção, tudo. Então, você terá se tornado positivo para ele. Quando você é positivo, o rio é positivo para você."

OSHO - em Vigyan Bhairav Tantra
PS: Colhi no http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=08979
Quando o trovão vem nos sacudir convocando a mutação, é bom tomarmos a oportunidade para desapegar dos hábitos que nos obstruem o caminhar, e seguir, prosseguir, olhando firmemente em frente. Nada de olhar para trás, ou para os lados, ou para além. O universo é sábio, e ele está dentro de nós.
Anabel

sexta-feira, agosto 07, 2009

Quando as pressões são demais, quando as expectativas se agigantam, quando a ansiedade de não saber o que virá borbulha, quando a espera parece interminável, quando a responsabilidade parece insuportável, quando a sensação de impotência pesa, quando parece que tudo está por um triz, ou está tudo errado, ou uma grande confusão, ou o que é que estou fazendo aqui?... Pare, plante bem os pés no chão, deixe os joelhos livres, não trave atrás, solte a mandíbula, os ombros, a testa, a barriga, se possível, sacuda-se um pouco, respire fundo algumas vezes, devagar, solte todo o ar, solte com sua voz sons de alívio, como um bocejo, espreguice, torça-se para alongar as cadeias dos músculos, abra bem a boca, faça careta, solte sons estranhos, inspire, suspire, pire, divirta-se com você, esteja somente aqui, olhe ao seu redor, olhe as pessoas, as cores, o espaço. Esfregue as mãos, massageie-se, percuta-se, abrace seu próximo, o próximo que aparecer, olhe nos olhos, estamos no mesmo barco, agradeça, é grátis, é simples, é livre, é de todo mundo, é seu, é isso.

Anabel

quinta-feira, julho 30, 2009

Velhas inquietaçãoes a respeito da falta que os ritos de passagem e o ritual fazem, me acometem com força ultimamente.
O "vazio" que tanto se busca preencher com sexo, comida, drogas, e o comportamento consumista na esfera afetiva em geral, relaciona-se de algum modo com a falta da celebração dos eventos que assinalam as transformações da vida, dando-lhes o significado de amadurecimento, de uma marca, da corporificação do próprio evento. Assim também as sensações de pertencimento são um acontecimento raro, muitas vezes mais comum em guetos e tribos do que na própria família. A falta de um sentido de sagrado, de transcendência da rotina, da descartabilidade do dia a dia, como um calendário cujas folhas o vento vai soprando pra longe, nos deixa empobrecidos em nossa humanidade, no significado de ser humano, e participar do mistério da vida, do universo.
Como se não reverberássemos com frequencias mais amplas do que o mero existir.
É preciso reencontrar o espaço/tempo da celebração em nossas vidas. Celebrar o encontro, o adeus, o início, o fim, o nascimento, a puberdade, a maturidade, o prazer de um momento, a morte, o amor, o perdão, a gratidão, a vida, cada dia, a ventura de viver. Rituais dilatam o tempo.
Dilatam o tempo no abraço, no olhar, no contato, num canto, numa dança de comunhão.

terça-feira, julho 28, 2009

Gosto das pessoas que olham nos olhos, e que realmente ouvem o que tenho a dizer sem preconeitos nem arrogâncias acadêmicas. Gosto de fluir junto num movimento, numa conversa, num silêncio profundo, numa divagação sem meta, num planejamento, num beijo, num debate, num gesto ou toque que se compartilha, não importando quem conduz a cada momento, porque há entrega, troca e reciprocidade. Fruir. Gosto de gostar, degustar, mesmo o já gasto de novidades, o que pede reinventação do sentir. Gosto do Amor. Gosto da palavra amor. Amor em Ágape, Eros, Afrodite, Demeter. Acho amar muito moderno e atrevido. Gosto de amar assim, pra lá dos julgamentos.
Anabel

sexta-feira, julho 24, 2009

eu falho

Não sei qual o grau de cumplicidade que cada pessoa pode alcançar com um amigo, mas um bom indicador, para mim, é poder contar "aquela cagada", "aquela mancada" que eu dei, reconhecendo e assumindo o erro, e sem medo do julgamento, sabendo que a consciência do erro, a reflexão, e o desabafo já fazem parte do aprendizado pra não repetir o mesmo. É claro que o amigo também reconhece o erro, sabe que não está certo, mas é capaz de compreendê-lo dentro do contexto, acompanhar-me nesse percurso subjetivo de assimilação, apropriação, remissão, enfim... percebe o processo junto, compartilha, e confia no meu entendimento, em vez de me colocar no paredão (que a própria autocrítica já se encarregou de colocar). O que não quer dizer que qualquer psicopatia vá ser acolhida do mesmo modo só pra provar que se é amigo. Há coisas que são crimes inafiançáveis, e que precisam de punição, ou doenças, patologias que necessitam tratamento, e enfim, há cagadas, erros menos graves, e sempre os contextos a considerar.


Dia desses fiz um erro múltiplo. Havia dado para outra criança um sapato da minha filha, já apertado há algum tempo, e quando ela não o encontrou, dias depois, sentiu-se traída por não ter sido consultada para tal doação. Aí é que fiquei em dúvida, pois eu achava que tinha lhe perguntado, porém em um momento em que eu estava muito estressada, fraca, frágil, desorientada comigo mesma, por questões outras, achei que, mesmo morrendo de vergonha, falar com a mãe da garota, expondo-lhe a situação, caso a menina ainda não o estivesse usando, e pudesse emprestá-lo por mais alguns dias, seria compreensível. E foi assim que a mãe da menina sorrindo, foi até o fundo, me trouxe o sapato, e disse que ainda não estava servindo, e que compreendia meu drama. Ufa! Expliquei para minha filha que aquilo que eu estava fazendo,- pedir de volta algo que já era dado -, era falta de educação, completamente errado e feio, e que só o havia feito porque havia dado algo que não era meu, mas dela, sem perguntar. Imagina a montanha de erros! Prato cheio pros juizes das "mães permissivas e inseguras de hoje em dia".


Pois é... Outro dia achei que falava com um amigo, e contei esse meu deslize, talvez pra elaborá-lo melhor. Meu deus! Me condenou à fogueira! Queria até que eu jurasse que nunca mais faria algo assim, e até disse que não poderia mesmo confiar em mim, diante de tal episódio. Episódio que é uma exceção, e tem um contexto, e não um comportamento ou uma atitude que escolho e tomo rotineiramente. Mas qual! Mal se despediu com uns tapinhas nas costas, e foi-se como um completo desconhecido.


E eu fiquei aqui com meus botões me perguntando, por que fui contar uma vulnerabilidade dessas pra uma pessoa tão sem abertura pra se colocar no meu lugar? Parecia que eu havia roubado! E fico me perguntando se todos esses conselheiros sobre educação infantil e outros comportamentos adequados, são capazes dessa alteridade, ou se eles mesmos nunca erram, ou se erram, se perdoam, e aproveitam o aprendizado, que é o que realmente importa, mais do que ficar se martirizando pelas incompetências que fazem parte do papel de mãe e pai. Porque aconselhar sobre o que é certo ou o que não se deve fazer, eu também posso, sou até boa nisso, mas numa situação que nos pegue desprevenidos, ou mesmo num aprendizado prático para o qual não tivemos treinamento suficiente, acho que é natural falhar, faz parte do processo mesmo de tornar-se melhor e errar menos!


Eu poderia contar um monte de situações em que me sai bem com minha filha, em que a fiz compreender limites, adptar-se a situações aprendendo a lidar com frustrações, em que a incentivei a ser generosa, verdadeira, a reconhecer erros, a ser educada, em que pedi desculpas, para que ela perceba que todos erramos, e podemos nos arrepender e melhorar, enfim, tudo o que os bons conselheiros publicam e falam. Mas escolho compartilhar o erro, porque, amigos, fingir que somos perfeitos, ou sair dizendo "não te devo nada", não contribui uma vírgula para o resgate da nossa humanidade. Num mundo de aparências, glamour e sucesso, em que deletamos spams e desconectamos de um papo, sem mais, é muito simples mudar nosso perfil, fazer um fake, ou coisa assim. Mas a vida do corpo, que inclui a virtual, mas que jamais se calará mesmo sob quilos de botox, silicone, eletrodos, plásticas e retoques variados, esta vida guarda a memória de todos os nossos processos, aprendidos ou reprimidos, assumidos ou negados, e esta não é descartável, e não se sustenta na gambiarra.


Resgatar nossa humanidade, passa por errar, reconhecer-nos vulneráveis. Saber usar o poder dos erros é fundamental. E é muito reconfortante saber que há alguém, além de um terapeuta, que nos ouve e se coloca em nosso lugar, se comove conosco, e nos olha nos olhos com a cumplicidade de quem diz "que cagada, amigo", mas confia na nossa capacidade de discernimento e nos sabe maiores que o erro, e nos abraça sem ter nada para dizer num momento de tristeza e dor. Conversar com um amigo é como voltar para casa.


Espero que meus amigos possam sentir-se livres e vulneráveis comigo, para refletir sobre acertos e erros, e para falar bobagens, para que saiamos nutridos do nosso encontro, e não com a sensação de sermos apenas incompetentes, ignorantes e incorrigíveis. E voltemos com nossos corpos vibrantes do encontro, confidentes e confiantes na vida. Pulsando com ela, com um sentimento de pertencer.


Anabel