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segunda-feira, dezembro 18, 2006
Queda muito livre
É o abismo, a vida que se abre, sem garantias, sem cabo de segurança, sem para-quedas, mas sim!, há pistas. Para que a queda possa ser mais que vertigem, possa ser mergulho, é preciso estar atento a elas. Algumas são gritantes, outras tão sutis que qualquer sentido menos aguçado pode deixar escapar.
É a opção de cada instante tornada degrau, trampolim para saltos desafiadores e vôos, pois nesta queda pode-se escolher a direção para onde vai o corpo, que é também, lembremos, o próprio autor da trajetória que nele se registra, marcas que nem todos admiram, nem se orgulham de ostentar.
Ainda ontem achei que ia me estatelar, mas hoje já estou aprendendo a planar melhor. O lance é não ficar olhando pra baixo, manter os olhos no horizonte, percebendo tudo à volta. Um sorriso interno como o de Budas ou Monalisas, cenho aberto, mandíbula livre, diafragma indo e vindo com o fole-go, ventre vivo.
É preciso deixar o que passou ser passado. Deixar sua ressonância se esvanecer até soar outro tom, abrir outro ritmo, desenhar outras melodias, que mesmo fazendo o que passou ecoar por simpatia, nos tragam outros vislumbres sobre aquilo que lá tecemos e nos teceu. Harmonizar.
Continua a brincadeira, a aventura, a jornada do herói que cada um ainda pode ser (não necessariamente para exposição pública), para simplesmente não adoecer de amargura e tristeza.
Parece incrível que sempre "ainda dá tempo". Mas é isso mesmo! Sempre! Ainda dá tempo. Mesmo no último suspiro desta existência. Um cuidado: ah, vaidade! Uma chave: humildade.
Experimentar lançar-se no abismo do novo, é das coisas mais doloridas e gozosas que conheço. Diz a voz:
- Deixe os julgamentos para os que nunca se atrevem a chegar à beira, despeça-se - cordialmente, se possível - e, corajosamente, abrace o vazio à sua frente. Deixe as lágrimas lavarem o peito e a alma. Chore mesmo, sem vergonha, cerimônia, nem timidez. Esperneie até sentir a substância do ar sustentar e embalar. Respire fundo.
Agora é você e o infinito inominável.
Eu vou.
Anabel
Imagem: "Light turbulences" by Mario Ramiro
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