sábado, janeiro 27, 2007

Membrana



Desestruturo-me, recolho partes espalhadas e esquecidas, vou desarmando velhas armadilhas, choro e rio e grito e gemo e tremo e aos poucos crio membrana pra sustentar tanta energia. Incorporo o material da catarse numa forma diferente de ser e estar no mundo, incômoda a pincípio. Dói, dá raiva, angústia... Minha tendência é querer usar velhos truques pra conseguir me manter com uma sensação ilusória de aprovação, ter a atenção e a simpatia, ao mesmo tempo em que mantenho uma distância segura. A gente tem tanto amor dentro da gente! "Pra que rimar amor e dor?" Eu até me espanto quando me deparo com a minha maciez do coração... quando consigo atravessar a casca grossa... Mas isso é porque eu confio, e me confio à loucura de um terapeuta que traz nas suas membranas Osho, Reich, Lowen, Keleman, toques da India, da Argentina, do Brasil... enfim, um Gabriel nada angelical, que me trouxe a oportunidade de encontrar uma tribo à qual eu sinto que pertenço. Mesmo que ainda estejamos aprendendo a lidar com a nossa nudez, estamos ávidos por nos despir: "no presente a mente, o corpo é diferente, e o passado é uma roupa que não nos serve mais".
Reencontro no meu corpo um espaço de merecimento e gratidão. E gratidão, muito mais do que dizer obrigada, é recobrar a percepção, as sensações e a emoção de ser parte do universo, desfrutar de pelo menos alguns momentos de fusão com todos e tudo. Não um gozo vaginal, uma ejaculação: um orgasmo indescritível.

Grata. Muito grata.


Imagem: "The blood of fish" by Gustav Klimt

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