Arnaldo Antunes
Debaixo d'água tudo era mais bonito
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Debaixo d'água se formando como um feto
Sereno, confortável, amado, completo
Sem chão, sem teto, sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Debaixo d'água por encanto sem sorriso e sem pranto
Sem lamento e sem saber o quanto
Esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar
Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contente
Longe de toda gente, para sempre no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
todo dia
Todo dia, todo dia
Debaixo d'água, protegido, salvo, fora de perigo
Aliviado, sem perdão e sem pecado
Sem fome, sem frio, sem medo, sem vontade de voltar
Mas tinha que respirar
Debaixo d'água tudo era mais bonito
Mais azul, mais colorido
Só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia
Agora que agora é nunca
Agora posso recuar
Agora sinto minha tumba
Agora o peito a retumbar
Agora a última resposta
Agora quartos de hospitais
Agora abrem uma porta
Agora não se chora mais
Agora a chuva evapora
Agora ainda não choveu
Agora tenho mais memória
Agora tenho o que foi meu
Agora passa a paisagem
Agora não me despedi
Agora compro uma passagem
Agora ainda estou aqui
Agora sinto muita sede
Agora já é madrugada
Agora diante da parede
Agora falta uma palavra
Agora o vento no cabelo
Agora toda minha roupa
Agora volta pro novelo
Agora a língua em minha boca
Agora meu avô já vive
Agora meu filho nasceu
Agora o filho que não tive
Agora a criança sou eu
Agora sinto um gosto doce
Agora vejo a cor azul
Agora a mão de quem me trouxe
Agora é só meu corpo nu
Agora eu nasco lá de fora
Agora minha mãe é o ar
Agora eu vivo na barriga
Agora eu brigo pra voltar
Agora
Agora
Agora
Imagem colhida em http://www.imagensporfavor.com/buscar/2/me+nsagens.htm
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Certamente dá vontade de ficar mergulhado, e tantas vezes a gente segura o ar até não mais poder, até chegar o momento irreversível de renovar, crescer, soltar, se encher, trocar, respirar. Agora.
Anabel
Agenda de performances, improvisações, lives, apresentações e espaço para considerações sobre atitudes cotidianas e suas reverberações no planeta. Bem vindo, bem vinda, bem vinde!
sábado, junho 26, 2010
sábado, junho 12, 2010
domingo, junho 06, 2010
quinta-feira, junho 03, 2010
#2 Idiossincrasias do Sonoro
Estamos envoltos no sonoro desde o estado fetal. O sonoro como maneira de ouvir, ver, sentir, reagir de maneira pessoal à ação de agentes externos. Ouvido onidirecional. Ouvindo e se abrindo em todas as direções.
Neste encontro do AVLAB, pensou-se no “ouvir” o sonoro de forma sutil e arcaica que contagia outras linguagens artísticas. A... poesia sonora, o corpo sonoro, o totem vídeo sonoro, a performance sonora. O gestual poético verbovocovisual, o gestual das criaturas e a ação sônica no corpo sem aparato tecnológico.
Para o programa foram convidados Wilton Azevedo que expande a poesia para multimeios digitais partindo o enfoque sonoro. Otávio Donasci, criador das videocriaturas que desencadeou diversos procedimentos na relação corpo/máquina. O encontro será aberto com a estréia mundial a obra Secret Axis criada por onze compositores de diversas partes do planeta com o corpo performático de Anabel Andrés.Vila Nova Cachoeirinha
Local CCJ
Av.Deputado Emílio Carlos, 3.641 (ao lado do terminal Cachoeirinha)
Tel: (11) 3984-2466Ver mais
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