segunda-feira, julho 11, 2011

Dando nome aos autores

Há na internet uma ansiedade por compartilhar o mais rápido possível algo que nos comove, ou deixa indignados, ou diz algo sobre nós, e assim divulgamos num piscar de olhos textos, artigos, poemas, etc, sem nem questionar a autoria desse material. Pois, achando muito esquisito o jeito da Clarice Lispector num texto maravilhoso, mas que não me soava a Clarice, "Mude", descobri seu verdadeiro autor, Edson Marques, e seu irreverente blog. Dali por diante, toda vez que me soa muito estranho o título, o estilo, enfim, se algo me parece indicar que a autoria não condiz com o texto, dou uma boa investigada, e quase sempre descubro que não é mesmo!!!!! Encontrei uma lista no site Recanto das Letras, onde muitos desses textos estão com seus verdadeiros autores. Vale a pena dar uma olhada. Hoje mesmo descobri que circula um poema "Amor é síntese" atribuido a Mário Quintana, que na verdade é de Mirthes Mathias. Muito bonito por sinal... Mas senti  já no titulo do poema algo muito afirmativo pra ser de Quintana...


Anabel

domingo, julho 03, 2011

Poema em linha reta


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. 


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... 


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos, 


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo? 


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza





Álvaro de Campos