segunda-feira, dezembro 21, 2009



Assim me sinto e assim desejo que se sintam, amores amigos, quando lhes escrevo, com o corpo - que inclui e é a alma - reverberando em cada palavra.
Amor, verdade, justiça e beleza, que o corpo planeta ressoa com nossos desejos e nossas atitudes!
Beijo,

Anabel

quinta-feira, dezembro 17, 2009

O risco de viver um grande amor até o fim, é ter que lidar com o fim do grande amor. Separar-se no ápice, como propõe um querido poeta, pode ser uma solução para algumas pessoas, mas como se reconhece esse ápice? Tantos ápices tem o amor, quando se percebe a beleza e o desafio de compartilhar um sentimento profundo que não quer encontrar um ponto final, nem perder-se em reticências por prevenção ou medo de ter chegado a ele. Até mesmo o fim pode ser uma experiência de amor profundo, amor que se importa em dizer, amor, tenho que partir, sinto falta de navegar, sou-te grata por tudo que contigo aprendi, e te considero tão profundamente, que mesmo doendo quero ser-te leal como amiga.
E há amor maior e mais generoso que o de amigo?
Mas são raros os que transmutam amor em amizade, e chegam ao fim com transparência e gratidão. Em geral o que se vê é "eu não te devo nada". Ninguém deve nada a ninguém. Gratidão e consideração são interpretadas como dever satisfações quando não há liberdade interior, coragem para sustentar a decisão de partir, e encarar a possível dor que essa decisão pode causar. Porém a dor da verdade sara mais depressa, que a dor do artifício, da traição e da indiferença.
Por outro lado, como diria uma velha amiga meio amarga, quem se importa se alguém vai ou fica? Quem se importa se alguém sente isso ou aquilo? No fim das contas tanto faz. Que drama...
É... provavelmente, no tempo das estrelas, do universo, das galáxias, nada disso tem a menor importância, mas é por isso mesmo que me enche de compaixão a história de cada pessoa que encontro nesta vida. E a minha própria também, claro...

Anabel

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Tudo é possível

Paulinho Moska




Vou abandonar o que já sei


E acreditar no incrível

Pois foi por água abaixo aquele nosso plano infalível



E para suportar a dor de perceber

O seu desprezo ao me perder

Sei que preciso reinventar o amor

E colocá-lo novamente dentro de você



Quando eu modificar a imagem

Que aprisiona o seu pensamento

Você vai vencer o medo de viver e seus desdobramentos

E vai encontrar o caminho da beleza

Labirinto dado como perdido

E vai subir no alto de uma torre

Na alma do nosso castelo demolido



Tudo é possível, não há nada que se possa deter

O que era impossível acaba de acontecer



Eu sei que o Tempo é uma grande árvore

De galhos infinitos

E que o presente é o momento em que ela dá seu fruto mais bonito



E que amanhã tudo talvez

Nos apareça claro como foi no início

A mesma ilusão de amor nos faz saltar feliz

De um novo precipício



E então vamos sentir de novo

O gosto da eternidade

E confundir instantes de alegria com a real felicidade



Ou, sem percebermos,

Os dias irão passando como um trem sem estação

E lá estaremos nós com os pés no chão

Mas encostando o céu com a palma das mãos



Tudo é possível, não há nada que se possa deter

O que era impossível acaba de acontecer


imagem: Nasa, berçário de estrelas, hoje no Estado de SP

terça-feira, dezembro 15, 2009

Quando todo seu ser ama de verdade, não há dúvida, nem frieza, nem disfarces, nem mesmo os que você pensa que são seu eu real agora. Só um quente sentido de unidade, e a certeza de que tudo acontece como tem que acontecer. E a entrega é a única forma de estar e ser.

Anabel

sábado, dezembro 12, 2009

"A palavra e o ato vivem em confllito, e este geralmente vence."

"Bater à porta errada costuma resultar em descoberta."

"Se chamamos problema a uma fechadura enguiçada, não se sabe que nome convém à questão do destino do homem."

Carlos Drummond de Andrade, in O Avesso das Coisas, Aforismos, ed. Record

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Minha filha foi à exposição do Pequeno Príncipe na Oca do Parque Ibirapuera com a turma da escola, e trouxe um passaporte com lembretes dos valores que podem deixar o mundo melhor. Entre tantos, um do trecho que é um dos meus favoritos, quando ele encontra a raposa:
"Eis o meu segredo - disse a raposa. É muito simples: só se vê bem com o coração. Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que fez tua rosa tão importante.
Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
Tu és responsável pela rosa..."
E há um pequeno mapa sideral dos planetas e dos valores que em cada um são aprendidos pelo Pequeno Príncipe.
Passaporte para a vida.
Também vou visitar!!!

Anabel

PS: lembra do carneiro dentro da caixa?



"O Pequeno Príncipe na Oca":
Até 20 de dezembro em São Paulo-SP (Oca, Parque do Ibirapuera, s/nº, portão 3 - Pavilhão Lucas Nogueira Garcez; terças a sextas, das 9h às 19h, e das 10h às 20h nos finais de semana e feriados).
Preço: R$ 18 (inteira), R$ 9 (meia) e livre para menores de três anos e maiores de 60 anos.
Visitas monitoradas e agendamento escolar pelo telefone 0/xx/11 3883-9090 e/ou pelo e-mail atendimento@divertecultural.com.br

quarta-feira, dezembro 09, 2009

As alças da mente por Rosana Hermann

Rosana Hermann


O pensamento pode voar, mas a mente gosta mesmo é de uma prisão. A mente gosta de prender-se voluntariamente a tudo o que não muda, ao que permanece, ao que se repete e ao que é sempre igual. Por isso, a mente adora lembranças e memórias. Porque o passado já passou e não pode ser mais mudado. O passado é permanente. A mente acha isso o máximo. É como administrar uma empresa onde nada pode dar errado. O medo da mente é justamente este, administrar imprevistos.



Outra coisa que a mente ama de paixão é o padrão, porque como o nome já diz, o padrão não muda. Um metro, uma hora, o mesmo caminho para o trabalho, voltar ao mesmo restaurante e sentar à mesma mesa, são padrões que toda mente humana gosta de repetir. Ah, que prazer que a mente sente quando a bunda senta na mesma cadeira que sentou na aula anterior! A repetição dá segurança, porque cria a falsa ilusão de que nada vai mudar. E se nada mudar, nada de ruim poderá acontecer. Tudo será igual, com o mesmo final feliz, como antes.

Crianças adoram ver filmes mil vezes porque se sentem seguras, porque podem antecipar as próximas cenas (se na vida fosse assim...) e porque têm certeza de como a história terminará. Já as mentes adultas, especialmente as obsessivas em qualquer grau, adoram a matemática. A matemática é a única ciência exata e imutável. Enquanto a física e química, a biologia, por exemplo, estão sujeitas a variáveis da vida real, a matemática continua igual. Daí o fato de que toda mente obsessiva gosta de contar, manipular números. As contas são sempre exatas, não mudam. E se você contar todos os passos e chegar direitinho à padaria com seus mil passos, então, podemos concluir que sua mãe não vai morrer e nada vai dar errado no seu dia. Certo? Errado.



Errado porque a mente vive num mundo irreal. Mundo da mente é como caspa, só existe na sua cabeça. Tudo é mera ilusão. E, com perdão do excesso de realidade fisiológica, o mundo está cagando e andando pras suas ilusões mentais. Como o mundo já provou, uma batida de asas de borboleta na África pode influenciar mais a ocorrência de um tsunami na Ásia do que sua contagem de azulejos no banheiro. Porque a borboleta é real e seu pensamento, não.



O problema é que a mente não quer nem saber disso e provavelmente muitos já terão abandonado este texto nas primeiras linhas. Espertos, porque sabem que vou contar um segredo sobre eles: a mente fabrica alças. Sim, alças, onde ela, a mente, possa se apegar. Uma alça, como aquele putaqueopariu do carro, onde a gente segura a vida quando o motorista não é de confiança. Como o santoantonio dos jipes. A alça pode ser um nome, um amuleto, uma mania, uma repetição qualquer. A mente é chata, mas criativa, e assim, inventou a alça-sem-mala. Nesta alça ela se apega até a morte.

É uma crença, um dogma, uma frase feita, um chavão, um lugar-comum: "Angélica ficou mais bonita depois que teve filho"; "Vaso ruim não quebra Qualquer alça é boa pra mente: "A cadeia é a universidade do crime", "Direituzumanu só tem bandidu"... Se a mente se acha fraca, ela inventa uma alça para se sentir forte, tipo: "Sou feia, mas tô na moda".

A mente inventa que se a pessoa perder dez quilos vai ser feliz e tudo vai dar certo na vida. Troca nomenclaturas, pra se sentir por cima. Porque uma coisa é dizer que você tem TOC e outra coisa é assumir que você é um obsessivo chato, que ninguém agüenta conviver a seu lado e por isso você precisa de tratamento sério com remédio e tudo mais. A mente inventa alças pra não cair em si. Mas cair em si é a única forma de tomar consciência - primeiro passo para melhorar.

Portanto, remova todas as alças. Caia. Caia em si. Tá gordo? Tá gordo, então, vamos emagracer. Tá infeliz? Sai dessa, viva a vida, aproveite. Tá duro? 'Bora ganhar dinheiro'. Só não fique aí, com essa cara de passageiro do circular da eternidade, vendo a vida passar na fresta da janelinha de um puta ônibus cheio, segurando firme na alça do medo, pois você tem que dar o sinal e descer para a liberdade do imprevisível.

 
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Recebi esse texto de uma amiga querida, num momento de sincronicidade ímpar. Rosana Hermann entusiasma sempre!
 

terça-feira, dezembro 08, 2009


Aos poucos esvazio-me de ti
Desincorporo-te
Descarnifico-te
Abraço minha solidão
Sem solitude
Numa quase alegria
De ser eu mesma
De estar em mim
Visível em meus montes e ocos
Pulsante
Inteira na expressão de cada sentimento
Cada palavra
Sem medo de estar desperdiçando
Meu amor


Anabel

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois
Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois
Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois
Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois

Mário Quintana




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Meu poeta do coração vem sempre soprar alento em lugares inesperados. Foi numa reunião para compartilhar e refletir sobre os dossiês do Núcleo Vocacional que ele me pegou assim desprevenida. Ficou ressoando, alterando minha frequência, como um banho de purificação...
Quando se está muito ferido é difícil ser generoso, mas depois de respirar e distanciar um pouco é possível ver as coisas por outra perspectiva, compreender melhor o tamanho da vida.



Eu sempre fui e serei uma borboleta muito livre, bobagem ficar marcando território em canteiros que não são para mim, por vaidade ou orgulho ferido. Além do mais, tenho meu jardim para cuidar.
Onde eu disse morra, leia-se viva, onde eu disse danem-se, leia-se sejam felizes.

Anabel

Foto de Raquel Moniz

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Escutatória

Rubem Alves

Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir.


Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.

Escutar é complicado e sutil.

Diz Alberto Caeiro que... Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. É preciso também não ter filosofia nenhuma.

Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.

Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.

Parafraseio o Alberto Caeiro:

Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.

É preciso também que haja silêncio dentro da alma.

Daí a dificuldade:

A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor...

Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.

Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração... E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.

Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade. No fundo, somos os mais bonitos...

Pensamentos que ele julgava essenciais são-me estranhos. É preciso tempo para entender o que o outro falou. Se eu falar logo a seguir... São duas as possibilidades:

Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza. Na verdade, não ouvi o que você falou. Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala. Falo como se você não tivesse falado.

Segunda: Ouvi o que você falou. Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo. É coisa velha para mim. Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.

Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.

O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou. E, assim vai a reunião.

Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.

Eu comecei a ouvir.

Fernando Pessoa conhecia a experiência...

E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras... No lugar onde não há palavras.

A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.

No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.

Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar.

Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.

Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.

Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
 
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... e o que importa é ouvir a voz que vem do coração... Milton Nascimento