quinta-feira, maio 07, 2009

Perdoar


Outro dia, conversava com um velho amigo, e ele sugeriu que eu lesse "Mulheres que correm com os lobos". É um livro que me acompanha, e que tomo aleatoriamente em diferentes momentos a fim de ver o que ele vai sintonizar e me auxiliar a compreender melhor. Deixo que ele venha, ou procuro por ele sem muita linearidade, permitindo que se abra onde melhor o Universo possa me trazer um insight. Desta vez, acompanhando um movimento de libertação interna, abri no capítulo 12, "A demarcação do território: Os limites da raiva e do perdão". Que exatidão! Transcrevo o trecho final.

"Perdoar"
Existem muitos meios e proporções com os quais se perdoa uma pessoa, uma comunidade, uma nação por uma ofensa. É importante lembrar que um perdão "final" não é uma capitulação. É uma decisão consciente de deixar de abrigar ressentimento, o que inclui o perdão da ofensa e a desistência da determinação de retaliar. É você quem decide quando perdoar e o ritual a ser usado para assinalar esse evento. É você quem resolve qual é a dívida que você agora afirma não precisar mais ser paga.
Algumas pessoas optam pelo perdão total: liberando a pessoa de qualquer tipo de reparação para sempre. Outras preferem interromper a reparação no meio, abandonando a dívida, alegando que o que está feito está feito e que a compensação já é suficiente. Outro tipo de perdão consiste em isentar a pessoa sem que ela tenha feito qualquer reparação emocional ou de outra natureza.
Para certas pessoas, finalizar o perdão significa considerar o outro com indulgência, e isso é mais fácil quando as ofensas são relativamente leves. Uma das formas mais profundas de perdão está em dar ajuda compassiva ao ofensor por um ou outro meio. Isso não quer dizer que você deva enfiar a cabeça no ninho da cobra, mas, sim, ser sensível a partir de uma postura de compaixão, segurança e preparo.
O perdão é onde vão culminar toda a abstenção, o controle e o esquecimento. Não significa abdicar da própria proteção, mas da própria frieza. Uma forma profunda de perdão consiste em deixar de excluir o outro, o que significa deixar de mantê-lo à distância, de ignorá-lo, de agir com frieza, condescendência e falsidade. É melhor para a psique da alma restringir ao máximo o tempo de exposição às pessoas que são difíceis para você do que agir como um robô insensível.
O perdão é um ato de criação. Você pode escolher entre muitas formas de proceder. Você pode perdoar por enquanto, perdoar até que, perdoar até a próxima vez, perdoar mas não dar outra chance - começa tudo de novo se acontecer outro incidente. Você pode dar só mais uma chance, dar mais algumas chances, dar muitas chances, dar chances só se... Você pode perdoar uma ofensa em parte, pela metade ou totalmente. Você pode imaginar um perdão abrangente. Você decide.
Como a mulher sabe que perdoou? Voce passa a sentir tristeza a respeito da circunstância, em vez de raiva. Você passa a sentir pena da pessoa em vez de irritação. Você passa a não se lembrar de mais nada a dizer a respeito daquilo tudo. Você compreende o sofrimento que provocou a ofensa. Você prefere se manter fora daquele meio. Você não espera por nada. Você não quer nada. Não há no seu tornozelo nenhuma armadilha de laço que se estende desde lá longe até aqui. Você está livre para para ir e vir. Pode ser que tudo não tenha acabado em "viveram felizes para sempre", mas sem a menor dúvida existe de hoje em diante um novo "Era uma vez" à sua espera.

in: Mulheres que correm com os lobos: Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem; Clarissa Pinkola Estés; RJ, Rocco, 1994

Um comentário:

  1. Oi Bel!!

    Depois de ter tentado ler a Clarissa, do inicio ao fim e não ter tido muito sucesso, tenho lido ele assim também.Leituras aleatórias, quase que como a Biblia, e tenho me surpreendido também com as precisões dos contos que me caem para ler...

    Eles vêm sempre muito oportuno para os meus questionamentos e inquietações daquele momento. E fico a reverberar a história por dias até a próxima leitura.E parece que dormindo por dias com aquele conto e suas explicações, consigo apaziguar e compreender tantas coisas internas, que estão a anos mal compreendidas....

    A professora do curso de contadoras me indicou esse livro a 8 anos atrás , mais faz menos de 1 ano que eu adquiri..deveria te-lo feito antes...mas...tudo tem seu tempo né.

    Beijão flor.
    Ká.

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