terça-feira, dezembro 16, 2008

2 de Copas


A necessidade de se abrir ao diálogo

O conselho que o Tarot dá neste momento, diz respeito a você compreender a importância de se abrir ao diálogo e à compreensão das coisas a partir do ponto de vista dos outros. Ouvir, neste momento, é condição fundamental para a harmonização da vida. Fale menos, escute mais, procure admirar a versão dos fatos e das verdades quando provenientes da boca do outro. Ainda que você não concorde com o que for dito, não rebata tão prontamente. Deixe-se admirar, colocar-se em posição de respeito pela voz alheia. A partir deste procedimento, uma série de bons entendimentos, acordos e reconciliações podem ocorrer. Os outros certamente se emocionarão com esta sua súbita disposição a escutá-los. O momento é favorável a todo tipo de conciliação.

Conselho: Compreender o outro é o primeiro ato para atrair compreensão para si mesmo.

Imagem: Tarô Crowley-Harris

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Vozes Bugras de Natal II

Queridos amigos,
Mais uma celebração para compartilharmos!

Beijos!

VOZES BUGRAS

em

Pastoris, Lapinhas, Folias e Histórias do Natal

dias 14 e 28 de dezembro, domingos, às 13:30
SESC Vila Mariana
Rua Pelotas, 141
http://www.myspace.com/vozesbugras

quinta-feira, dezembro 11, 2008

A Maçã

"Quando eu te escolhi para morar junto de mim,
Eu quis ser tua alma, ser teu corpo tudo enfim,
Mas compreendi que além de dois existem mais.

Amor só dura em liberdade,

o ciúme é só vaidade
,
sofro, mas eu vou te libertar


O que é que eu quero, se eu te privo

do que eu mais venero

que é a beleza de deitar"



Raul Seixas me dando sábios conselhos na madrugada.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Vozes Bugras de Natal


Uma celebração de natal brasileira para compartilhar com amigos e família!
Apareçam, queridas e queridos!
Vam pus cuiabá, ariguê!!!!!

domingo, novembro 23, 2008

Bico do corvo

Percebo a raiva virando crítica, depois desdém, depois atitude defensiva... "você sempre...", você nunca...", "somos muito diferentes."
As diferenças não geram crescimento quando significam pontos finais, quando em vez de parceria tomam significado de competição e rejeição. E se não há admiração, carinho, amizade, vontade de crescer e amadurecer num relacionamento, elas vão servindo apenas como desculpas esfarrapadas para justificar a indisposição de um para com o outro, travestidas de argumentação lógica. E tudo o que se pode ver no outro são defeitos.
Se há filhos, estes ficam contaminados pela qualidade desse clima emocional. Ficam ansiosos, angustiados, agressivos, de algum modo sentem que algo vai muito mal.
Fugir, fingir, ter uma atitude blazè, negar emoções, em vez de reconhecê-las e apropriar-se delas, é mais simples, aparentemente. Colocar uma pedra no assunto... Que tamanho de pedra precisaremos colocar, conforme passe o tempo, sobre uima relação mal resolvida?
Discutir conflitos pede coragem e amor, se não pelo outro, por si mesmo, amor-próprio. É uma escolha. Nem sempre é fácil decidir mergulhar e buscar caminhos para transcender nossas sombras. Tem muita tristeza, raiva, dor, mágoa, medo, guardados no nosso caráter. Mas escolher um pequeno movimento inicial coloca a roda para girar, e a rigidez estática desaba.
A questão é escolher o movimento e deixar a torre do orgulho.

Anabel

Sobre disciplina

Uma atitude e uma construção que ainda me é um desafio. Com certeza as coisas fluem com mais facilidade quando se segue um planejamento mínimo, mas para algumas pessoas, como eu, é um eterno aprendizado!

O artigo de Vida Simples dá uma pincelada sobre a importância do tema:
http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/065/pensando_bem/conteudo_272804.shtml

terça-feira, novembro 04, 2008

Cia. Danças na Conexão Internacional da Dança



Cia.Danças

de

Claudia de Souza

espetáculo

"Adeus, corpo gentil, morada do meu desejo"

dias 19 e 20 de novembro às 20h00

Teatro Sérgio Cardoso - Sala Paschoal Carlos Magno

Rua Rui Barbosa, 153
Bela Vista
CEP 01326-010
São Paulo-SP

segunda-feira, outubro 27, 2008

Dança Vocacional

Eles dançam, conectam-se com o universo através do movimento, criam uma oração corporal, rezam um maculelê, um samba, uma dança de rua, balé, ciranda contemporânea... São vocacionados.
Estão abrindo um novo espaço com seus gestos, giros, saltos, torções, explorando suas possibilidades de expressão, ampliando, inventando, reconhecendo, descobrindo, atendendo ao chamado que é seu desde sempre.
Passo a passo a rede que liga os seres dançantes desta cidade se tece. Estão todos convocados para multiplicar os fios e pontos, todos convidados a entrar na dança. Há uma porta de acesso perto de cada comunidade de São Paulo, através do Projeto Dança Vocacional.


Foto: Vocacionados da Casa de Cultura Tremembé

domingo, outubro 12, 2008

Já já


Volto logo, queridos. Enquanto isso, que tal uma matéria sobre "Paciência" da revista Vida Simples deste mês? É bom refletir... Bjão


Foto de Gil Grossi, "Adeus, corpo gentil, morada do meu desejo"

quinta-feira, setembro 04, 2008

No ateliê coreográfico

Hoje troquei um longo olhar com um colega. Inesperado, tranquilo, intenso, profundo. Se ele dançar a intensidade do seu próprio olhar e suas nuances, haverá de ser um imã para os olhos de quem o assistir!
A pesquisa não tem que ser descrita na dança, mas transcendida na criação da coreografia. Chegar ao essencial, ao que não é dizível, à escolha que sintetiza e traz a reverberação, sem ter que carregar a demonstração de todas as experimentações que a antecederam, é um processo que traz uma certa angústia no início. Decidir por um enfoque, e deixar de jogar luz em muitos outros aspectos que investigamos, é um momento difícil. Mas se não for assim, corremos o risco de elaborar apenas uma coleção de movimentos vagos, que ao ser encenados não despertam curiosidade sobre seu devir no espectador, não conversam com ele, nem o contaminam. Bem, isso também pode ser uma escolha.
Mas aquele olhar, aquilo é uma dádiva!

Anabel

terça-feira, setembro 02, 2008

Vozes Bugras em Sampa


Queridos amigos,
venham celebrar conosco!
Bjos,
Bel

VOZES BUGRAS
Dia 09/09/2008 às 19h
No IBMEC
Rua Quatá, 300 - Vila Olímpia - CEP: 04546-042 - Tel: (11) 4504-2400

quinta-feira, agosto 28, 2008

“DANÇAS 12 ANOS”

“DANÇAS 12 ANOS”

A companhia Danças de Claudia de Souza em comemoração aos seus doze anos de pesquisa e criação em dança contemporânea lança em 2008 o projeto “Danças 12 anos” que conta com o patrocínio da secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo, por meio do 4º Programa Municipal de Fomento à Dança.

Através deste projeto, o Danças tem como objetivo a continuidade de suas ações no cenário da dança contemporânea paulista promovendo a formação, a criação e a difusão de conhecimento nesta arte por meio de workshops, oficinas, ateliês de criação e ensaios abertos, além da remontagem de seu repertório e da criação de um acervo como uma forma de delinear e documentar seu histórico artístico.


Espetáculos na Galeria Olido Sala Paissandu

Dia 04 de setembro de 2008 às 20horas “7 e a mesa”

Dia 05 de setembro de 2008 às 20 horas “Q”

Dia 06 de setembro de 2008 às 20 horas“Pares”

Dia 07 de setembro de 2008 às 19 horas “Pares”


Galeria Olido - Avenida São João, 473 - Centro - São Paulo - SP.

Tel. 3331-8399

Espetáculos gratuitos (retirar os ingressos com uma hora de antecedência)

sábado, agosto 23, 2008

Partícula Elementar

Às vezes coloco meu ponto de vista sobre um coletivo de que faço parte com tanta veemência, que algumas pessoas podem pensar que estou tentando falar por elas. Posso até falar, se isso é um acordo comum ao grupo, mas na maior parte das vezes é meu ponto de vista que estou tentando expressar sobre um acontecimento que me afeta, e como percebo sua reverberação no coletivo a que pertenço. Pensando que esse coletivo é constituido de indivíduos com os quais tenho uma relação de parceria, que passa pela afetividade inclusive.
É verdade que exercito bastante a alteridade, o colocar-me no lugar do outro, mas nem sempre é possível transcender meu repertório de vida, e compreender de fato o lugar do outro. Ainda assim, acho um exercício importante sair de mim para buscar compreender a atitude alheia. Às vezes porém é preciso limitar-me a cuidar do meu lugar, reconhecer seus contornos, para não me perder demais no lugar que eu penso ser do outro, e ficar sem norte, aprisionada num dilema por um tempo longo demais, desperdiçando uma oportunidade de conhecer algo diferente daquele ponto de vista.
Conflitos e insatisfações são fontes de aprendizado se estamos disponíveis para nos rever, reler, mudar de opinião, reconhecer atitudes rígidas da nossa parte que precisamos flexibilizar, como preconceitos, ou flexíveis demais que precisamos enrijecer, como diletantismo ou falta de compromisso. (Muito sábio Che Guevara em sua frase mais pop, mas será que refletimos o suficiente sobre ela?)
Claro que fatores subjetivos como empatia, estado emocional, traumas, entre outros, interferem e podem até impedir que estejamos abertos para esse tipo, essa dinâmica de aprendizado. Nesse caso, é preciso ter coragem de admitir também quando não estamos prontos para "encarar uma encrenca", e ter humildade suficiente para dizer: desculpe, não estou conseguindo, não sinto que seja um bom momento para conversar sobre isso agora.
Falta de objetividade na expressão oral também pode fazer soar como desimportante algo que, se houver a chance de melhor elaborar, pode gerar insights significativos. Ou pode acontecer de cada um ouvir uma coisa daquilo que foi dito, e ninguém escutar nada além das próprias vozes que carrega dentro de si.
A autonomia não é um estado de perfeição que se atinge na marra, nem nos é outorgada por alguém, é uma construção, uma conquista, antes de mais nada, dos nossos próprios caquinhos servis, tirânicos, medrosos ou rebeldes, em busca da maturidade que nos permita questionar e agir com coerência, mesmo indo contra convenções e leis que, numa situação específica, ou num novo contexto, se tornem apenas dogmas.
Falo disso tudo porque me ocorreu tentar formular uma crítica dentro de um grupo, pensando em contribuir para um relacionamento mais transparente, com simplicidade, que virou uma lavação de roupa para uns, um momento de descarga para outros, um momento de afirmação da autoridade para outros, um medo de serem expostos e perder os postos para outros ainda, uma balbúrdia onde todos falavam só de e para si. Acabei com a sensação de ser mal interpretada, mas penso agora que foi a minha falha na objetividade que desencadeou o desabafo geral, o que foi bom. Transcendendo o nível das mágoas, acho que há muitos pontos de aprendizado que essa crise fez emergir. E acredito que o grupo só tem a crescer com isso, se cada membro dele estiver disposto a baixar a guarda e buscar olhar de um outro lugar o problema, procurando juntos por soluções, ou outras questões importantes que possam vir daí.
Semear perguntas não é só um refrão ao qual se possa aderir inconsequentemente!

sábado, agosto 02, 2008

Não é bem da Clarice...

Todo mundo já deve estar acostumado a receber lindos poemas da Clarice Lispector, que lê já desconfiando, ou na maior ingenuidade repassa pra montes de amigos, e depois descobre que não eram dela. Um amigo virtual, o poeta Edson Marques, autor do maravilhoso Mude, que o diga! Até lhe devolverem a autoria do próprio poema foi uma novela! Mas nem só de confusão se faz esa história da autoria.
Há um poeta, o Padre Antônio Damázio, que fez do arranjo em poemas dos textos de Clarice, um projeto de parceria mesmo. Conheçam um pouco do projeto e dos poemas dessa parceria no site http://www.jornaldepoesia.jor.br/cli.html
Descobri ao desconfiar de um lindo poema que recebi de um amigo, "Meu Deus, me dê a coragem", que soava muito a Clarice, mas Clarice não escrevia em forma de oração... e fui fuçar no Google.

Beijos

Anabel

sexta-feira, julho 25, 2008

Aquele movimento que te ofereci


Aquele movimento que te ofereci não volta mais, e é eterno recomeçar.
Não me prenda nas tuas referências de costume.
Deixa que eu aconteça como sou, como dança, como afeto, como incompletude e fluência livre.
Olha para meu corpo, e enxerga minha imensidão. Transcende minhas formas, meus contornos com teu olhar. Olha minha luz em lugar de julgar minhas sombras.
Sente meu pulso. Pulsa comigo. Te entrega um pouco.
Deixa eu sonhar nossa fusão, e admirar nossas diferenças.
Que em lugar das acusações e críticas, brotem de nossas bocas sorrisos de velhos amigos, brindando a cumplicidade dos parceiros que sabem ter muita história em comum.
Mas se não há nada em nós que te comova mais, sossega, clareia minha angústia: me deixa.

Anabel

Imagem: Madonna, por Edvard Munch

sexta-feira, julho 18, 2008

Talvez eu devesse ficar quieta

Talvez eu devesse ficar quieta, achar que eu é que faço tempestades em copos d'água, que não há nada demais numa omissão ou outra, pode ser só lapso de memória. Ou pode ser que eu esteja encanando, ou significando uma amarra e nada mais na vida de alguém, enquanto penso que o que nos une são laços. Talvez cada um sinta de uma maneira muito diferente o tecer de uma relação, ou talvez seja tempo de trocar os fios, e usar outros pontos, e criar outras estampas, outros bordados.
Outro dia li um artigo muito interessante na revista "Vida Simples", entitulado "ninguém é perfeito", onde a autora, Elisa Correa, falava desse perfeccionismo do qual ficamos impregnados pela atitude consumista, querendo sempre o melhor produto, o melhor pacote, enfim, o melhor que o mercado tem a oferecer e transferimos isso para nossos relacionamentos, como se estes fossem mais um objeto de consumo, e não uma obra a ser produzida, construida, melhorada. Acabamos descartando as relações que não correspondem ao comercial de margarina, de creme dental, de férias na praia do cartão de crédito, da liberdade do cara só fumando um cigarro, e vamos em busca de outras que possam atender a nossa expectativa moldada à base de clichês. E vamos consumindo sem nos envolver em profundidade nas relações. Quem quer uma relação que significa uma corrente que o impede de ir passar um fim de semana sozinho viajando? Um bicho de estimação, um filho, um marido, uma mulher. Onde não há amor, tesão, carinho, cumplicidade, amizade, só podem haver obrigações, deveres, amarras. Laços são para presentes. E nada de singular se cria... é tudo uma sem-graceira só!
Mas o que é que eu estou querendo?
Descer o Rio Paraguai cantando as canções que não se ouvem mais?

Anabel

quarta-feira, julho 16, 2008

terça-feira, julho 08, 2008

Elogio

Achei tão doce ele dizer do meu cabelo desarrumado: gosto de cabelos assim. Cabelos... sinceros.
Nossa, como eu me senti bonita!!!!

Anabel

segunda-feira, junho 30, 2008

Um brinde

À simplicidade de um momento de silêncio, de uma resposta breve e sincera, de uma visita inesperada, de uma comida improvisada, de uma tarde com canto de bem-te-vis, de um abraço sem cumprimento, de um encadeamento de palavras criando viagens para a imaginação...

Anabel

quarta-feira, junho 25, 2008

Vozes Bugras pelo interior em Julho

Vozes Bugras pelo interior de São Paulo!
Ainda não sei quais os teatros ou espaços onde serão os shows, mas é este o roteiro básico. Quem tiver amigos ou parentes por lá, divulgue, por favor! Se estiver passeando por aí de férias, apareça!

Vam pus cuiabá, ariguê!

05/07 - Santa Fé Do Sul
06/07 - Mirandópolis
26/07 - Guararema

E em Agosto:

29/08 - Ibitinga

Parênteses da vida

Meus queridos, não ando muito inspirada pra traduzir o meu turbilhão atual na escrita, mas achei esta reflexão que minha amiga Libânia, enviou muito bonita e importante, pois me remete aos muitos matizes que uma vida colorida pelo sentimento deve ter, então compartilho com vcs.
Bjão,
Bel
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A Alegria na Tristeza

Marta Medeiros

O título desse texto na verdade não é meu, e sim de um poema do uruguaio Mario Benedetti. No original, chama-se "Alegría de la tristeza" e está no livro "La vida ese paréntesis" que, até onde sei, permanece inédito no Brasil.

O poema diz que a gente pode entristecer- se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de ainda conseguirmos senti-la.

Pode parecer confuso mas é um alento. Olhe para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de trânsito, matam por um boné, matam para se divertir. Além disso, as pessoas estão sem dinheiro. Quem tem emprego, segura. Quem não tem, procura. Os que possuem um amor desconfiam até DA própria sombra, já que há muita oferta de sexo no mercado. E a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música. Há tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.

Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia. Sentir é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado pra for a.

Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.

Sentir é um retiro, fazer é uma festa. O sentir não pode ser escutado, apenas auscultado. Sentir e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas, convites, aquisições. Até parece que sentir não serve para subir na vida.

Uma pessoa triste é evitada. Não cabe no mundo DA propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais. Tristeza parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido. Ok, tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos botões. E dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando espaço para uma alegria nova e revitalizada.
Triste é não sentir nada.

Imagem: "Mulher Sentada", de Cândido Portinari

segunda-feira, junho 23, 2008

O Jeito de Viver


Aos meus irmãos de geração que, por mais que tenhamos mudado, ainda nos permitimos comover com velhas canções ao som de um violão em volta de uma fogueira. À minha tribo, e a todas as tribos que amam e cuidam da Terra. A todos que buscam na simplicidade e na franqueza sua expressão de amor à vida.

(um oferecimento Radiobel ;p)
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O Jeito de Viver

Sá e Guarabyra

Eu ainda sou
Aquele sonhador
Desculpe se o que eu sinto
É muito antigo
Desculpe o que eu fizer
É por amor
Eu ainda vivo
No mundo da lua
Fazendo planos simples pro futuro
Eu na verdade
Sou um menestrel medieval
Assombrado com imagens de televisão
Assustado pelas coisas que acontecem
Dentro do meu coração
Por isso eu penso
Que essas coisas
Não deviam ser
Pura paixão
Eu ainda estou
Querendo descobrir
Um jeito de mostrar meu sentimento
Um jeito claro e simples de viver
Sem precisar fingir
Eu na verdade
Sou um menestrel medieval
Assombrado com imagens de televisão
Assustado pelas coisas que acontecem
Dentro do meu coração
Por isso eu penso
Que essas coisas
Não deviam ser
Pura paixão...

quinta-feira, junho 12, 2008

Amando o que acontece



As estações mudam. Às vezes é inverno, às vezes é verão. Se você permanecer sempre no mesmo clima, você se sentirá estagnado. Você precisa aprender a gostar daquilo que está acontecendo. Chamo a isso de maturidade. Você precisa gostar daquilo que já está presente.

A imaturidade é ficar vivendo nos "poderias" e nos "deverias" e nunca vivendo naquilo que "é" - aquilo que "é" é o caso, e o "deveria" é apenas um sonho. Tudo o que for o caso, é bom. Ame isso, goste disso e relaxe nisso.

Quando algumas vezes vier a intensidade, ame-a. Quando ela for embora, despeça-se dela. As coisas mudam... A vida é um fluxo. Nada permanece o mesmo; às vezes há grandes espaços e às vezes não há para onde se mover.

Mas as duas coisas são boas, ambas são dádivas da existência. Você deveria ser grato, reconhecido por tudo o que acontece. Desfrute o que for. É isso que está acontecendo agora. Amanhã poderá mudar, então desfrute aquilo. Depois de amanhã algo mais poderá acontecer. Desfrute-o.

Não compare o passado com as fúteis fantasias futuras. Viva o momento. Às vezes é quente, às vezes é muito frio, mas ambos são necessários; de outro modo, a vida desapareceria. Ela existe nas polaridades”.


Osho, in A Rose is a Rose is a Rose is a Rose.

Foto: a flor Mímulus guttatus

quarta-feira, junho 04, 2008

Conseguimos!


Cia Danças foi contemplada pelo Programa de Fomento à Dança (4º edital)! Viva!!!

Invisível

Andava de olhos fechados: ela me dando a mão e eu indo... não me perguntava se já era hora de virar ou ir em frente ou parar, e ia. Sabia que ela estava comigo, o toque me dizia, o rítmo, a respiração, os sons, e mais um não sei quê da presença e sua vibração. Coisas invisíveis aos olhos, na verdade, coisas que os olhos não deixam ver. Coisas que sustentam e dizem sem precisar de explicação. Não há esforço, nem elocubração, só entrega. A gente sabe que está junto, simplesmente sente. E está.

Anabel

Foto: Evgen Bavcar

sábado, maio 31, 2008

Parceria

Compartilhar, cooperar, comungar, coordenar, coexistir, colaborar, conhecer, comedir, comemorar!, comprometer-se (reflexivo em tudo o mais), completar, cozer, comer (mmmmmmm), corar, colorir, coração, corpo, cobertor, colo, colibri, coisas da vida, cordilheira infinitivamente recíproca e substantiva.

quarta-feira, maio 28, 2008

Assim sem disfarçar

Composição: Moska

Eu quero te dar
E quero ganhar o que você me der
Eu quero te amar
Até não saber mais o que isso é
Eu quero querer
Igual a você assim sem disfarçar
E quero escrever
Uma canção de amor para nos libertar

De todos os códigos, hábitos, truques, manias
Que insistem em estar
No meio, no centro, no canto da gente
Em lugares que eu não quero andar

Eu só quero te dar
E quero ganhar o que você me der
Eu quero te amar
Até não saber mais o que isso é
Eu quero querer
Igual a você assim sem disfarçar
E quero escrever
Uma canção de amor para nos libertar

De cada imagem errada
Que a velha palavra usada nos trás
De tudo que signifique
Que para sermos um temos que ser iguais

Eu só quero te dar
E quero ganhar o que você me der
Eu quero te amar
Até não saber mais o que isso é
Eu quero querer
Igual a você assim sem disfarçar
E quero escrever
Uma canção de amor para nos libertar


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Moska mais uma vez dizendo tudo!

Dançando "Pares"

O excesso de vida prática me deixa pouca brecha para escrever ultimamente... mas tem também suas delícias!

Amigos, espero por vocês!
Bjão

Cia Danças em
"Pares"

31 de Maio de 2008 às 20hs.

Teatro do Colegio Humboldt
Av. Eng. Alberto Kuhlmann,525
Fone. 5686 4055

Ingressos R$ 15,00 inteira e R$7,50 meia

“Pares” busca explorar o rico universo das danças de casais, sobretudo aquelas relativas a ritmos e festas das diversas regiões do país como o samba de gafieira, o baião, o xote e outras, dentro do contexto urbano. Dessa dinâmica emerge uma informação fundamental do modo como se desenvolveu o relacionamento afetivo na nossa cultura: a expressão através do contato e do toque.

Ficha técnica:
grupo: Cia Danças
direção: Roberto Lage
concepção: Claudia de Souza e Roberto Lage
coreografia: Claudia de Souza
elenco: Anabel Andrés, Claudia de Souza, Cristiana de Souza, Janaína Castro,
Gabriel Moreto, Junior Domingos, Junior Gonçalves e Kleber dos Santos.
pesquisa e textos: Anabel Andrés e Cláudia de Souza
projeto de iluminação: Ari Nagô
cenografia: Luiz Trigo
produção de trilha sonora: estúdio Veio Musical
(60min, 12 anos)

segunda-feira, maio 26, 2008

Chavões sem molho

Tudo passa e se transforma.
Uma única gota de agora pode fazer transbordar o que levou anos sendo represado.
É que a toda pressão correspode uma contra-pressão de força equivalente. No inconsciente a contra-pressão é ainda mais forte do que toda a educação é capaz de domar.

Mesmo a mais neutra e detalhista das memórias, não deixa de ser apenas uma interpretação dos fatos.

Por que guardamos o amor para apenas dá-lo quando o conjunto das circunstâncias for perfeito? Não há como amar o perfeito. Perfeito é o amor que acolhe as imperfeições, delas se ri, e as transmuta em sua brasa constante.

Perfeito temos o pretérito. Temos também o pretérito mais que perfeito. E é preciso cuidado com as incursões que se faz ao pretérito para não virar escravo do seu futuro. Por mais perfeito que tenha este sido. Mas é um ótimo tempo para imaginar, disfrutando do presente!

E é preciso semear encantamento neste mundo. Num pequeno canteiro que seja.
Mesmo que nada seja novidade, já que nada é o começo de tudo.

Anabel

sexta-feira, maio 16, 2008

Mundo Língua Palavra

Hoje fui viajar pelo Mundo Língua Palavra.
Peguei metrô até a Estação da Luz, desci, subi, entrei no edifício que os ingleses construiram em 1901 (reformado em 1946, depois de um incêndio criminoso), e logo que entrei fui me sentindo envolver pela Língua, por todos e em todos os sentidos.

Museu da Língua Portuguesa.



Museu tão vivo nunca visitei. Tão vivo quanto a própria língua. Nosso português, pulsante, vibrante em cada palavra, em toda entrelinha.
Um museu onde me senti preenchida de significados, significações e sensações que dão à identidade pela língua vivacidade, fluidez, sustentação, tesão!
Transformação, incorporação, apropriação, ações de infinito renovar. Recriar.
A beleza de ter tantos países navegando no mesmo idiomar. Ou um vôo espacial, que nos permite ver o planeta em português. Idiomaterno*, acolhedor, nutridor. Alimento para a alma. Alento.
O que há lá? Não conto. Vá presenciar e desvendar.
Posso causar estranheza, na minha exaltação, aos que estejam ainda estagnados em estreitezas lingüísticas, associando museu com algo estático, um edifício que abriga relíquias. E como tudo o que eu possa dizer jamais traduzirá ou substituirá a experiência em si, que nunca será igual para ninguém, só me resta a exortação.
- Você já foi ao MLP? Então vá!!!!
Uma viagem para se fazer muitas e muitas vezes, como o próprio logotipo sugere!

Anabel

* expressão cunhada por Antonio Risério, que ressignifica nossa língua. Risério, antropólogo e poeta, é o responsável pela definição de todo o conteúdo exposto no MLP.

Leia também a entrevista com Marcello Dantas, diretor artístico do MLP.

segunda-feira, maio 12, 2008

Maio 68

Eu tinha 3 anos.
O mundo estava em ebulição, e por certo, muito do que vivemos hoje em termos de comportamento ocidental, é de lá que reverbera.
Duas reflexões de mulheres a respeito daquele momento que merecem ser lidas:
Miriam Brasil
Adília Belotti

recados


Ontem, numa conversa com minha manina Dani (Lasalvia), sairam voando de sua boca algumas borboletas que Caio Fernando Abreu mandou, e que me levaram à teoria do caos, e a Lao Tsé, em menos de quinze minutos!!!
As borboletas e as aranhas sempre me falam em momentos de virada. À vezes também aparece o camaleão David Bowie nalgum sonho cheio de simbologias.
Agora mesmo tirei o Louco no tarot. Arcano zero.
Laila estava muito inquieta hoje. Acho que nunca a vi tão agitada assim.
Amanhã, quando acordar, vou lembrar do que sonhei.


Anabel

PS: ah, sim, o primeiro telefonema que recebi esta manhã pelo dia das mães, foi de uma desconhecida maravilhosa, por engano!

domingo, maio 11, 2008

Conflito de corpos

Conflito de corpos, da cultura inscrita nos corpos, das histórias que os corpos carregam, pessoais, sociais, do tempo dos corpos...

Ela, mesmo com a retaguarda erguida, convidou-o pra dançar. Ele entrou na roda, meio sem jeito, "que é que os outros vão falar?"
Ela madura, contemporânea, num balé rastejante, serpenteiro, descalço.
Ele Bboy nascente, em arcos e quebras, cuidando pro tênis não pisar onde não podia.
Eu vi. Os dois assustados, mas procurando as possibilidades daquele diálogo esférico.
Não havia câmera pra filmar aquela riqueza daquele momento ímpar.
Naná com o berimbau "Já que tu não quer saber de mim"...
Quando a improvisação acabou, cada um tomou seu rumo. Ele foi embora com a turma, como se tocasse a sineta da escola. Ela ficou e comentou o quanto aquela experiência a fizera sentir-se "em risco".
Não sei o que virá disso, espero que possa ser um caminho, e que eles acreditem que é possível esse diálogo alcançar uma contaminação. Mas às vezes o medo do novo é mais forte do que a ousadia de, não tendo um passo pra mostrar, dá-lo na dança.
Eu torço pra que eles ousem vir ao menos mais uma dúzia de vezes.
Pena eu não ter câmera filmadora.
Mas registrado está. Eu vi. Eu estava lá. E dançava com eles também.

Anabel

PS.: sobre o encontro da Dança Vocacional na Casa de Cultura Tremembé de quinta-feira, 08/05/2008.

quinta-feira, maio 08, 2008

xodó


Olhar
gostar
sorrir
arder
chegar
ouvir
cheirar
querer
roçar
beijar
sussurrar
abraçar
acariciar
tocar
lamber
esfregar
morder
beijar
respirar
escutar
suspirar
ritmar
sussurrar
cheirar
chupar
sorrir
gemer
fluir
fruir
abrir
penetrar
beijar
acariciar
brincar
gozar
abraçar
beijar
suspirar
olhar
gostar
beijar
sorrir
acariciar
recomeçar

cansar

abraçar
beijar
suspirar
olhar
beijar
cheirar
gostar
sorrir
adormecer
feliz


Anabel

foto: Cananga Odorata, Ylang-Ylang

terça-feira, maio 06, 2008

Sobre Sapatinhos Vermelhos

E eu quase acreditei que minha loucura era só inadequação, que meus desejos eram só caprichos passageiros, que a grama do vizinho era mais verde, que não sei quem iria reconhecer meu valor, que era amor o que eu sentia, que tudo voltaria a ficar bem, que era só fechar os olhos que o medo desapareceria, que era só fingir que logo seria verdade, que poderia tapar meus buracos afetivos com sexo, álcool, fumaça e trabalho, que as boas maneiras eram mais importantes do que a sinceridade...
Cada bobagem! Quando bate a carência da mente infantil ainda ferida, a gente acaba calçando os primeiros sapatinhos vermelhos que aparecem, e acaba não sendo mais dona dos próprios passos! A alma esfomeada é capaz de qualquer doideira.

Anabel
Much madness is divinest sense
To a discerning eye;
Much sense the starkest madness,
'Tis the majority
In this, as all, prevail.
Assent, and you are sane;
Demur - you're straightway dangerous,
And handled with a chain.

Emily Dickinson





Loucura é razão sublime
Para um olho perspicaz.
Muito juizo é pura
E simplesmente loucura.
A opinião da maioria
Nisto e em tudo prevalece.
Se concordas, és sensato.
Discordando - és perigoso
E acorrentado no ato.

trad. Idelma Ribeiro de Faria

in Dickinson, Emily, Poemas - edição bilíngüe, trad. Idelma Ribeiro de Faria, SP, editora Hucitec, 1986

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Acho essa tradução meio dura para a fluidez do poema da
Emily Dickinson, mas o adoro e a amo, e estava ouvindo seus ecos hoje.
Uns anos atrás me atrevi a musicar vários de seus poemas, acabei mostrando para muito poucos amigos, e engavetando. Mas ainda gosto da combinação. A Nun até tinha sugerido de fazer um cd, mas isso foi antes dos furacões e tempestades. Acho que a última vez em que os cantei foi num domingo frio em que Luiz Claúdio e Anunciação foram em casa, e nos esparramamos em blues, poesia, mantras inventados, e todo tipo de conversa profunda e rasa, com piano, violão e diversos objetos sonoros. Ano da graça de 2004...
Gosto muito da apresentação da Emily que Idelma R. de Faria escreve, intitulada "O Mito de Amherst", no mesmo livro. Diz no segundo parágrafo: Escolheu como forma de vida a solidão e a poesia.
Acho tão bonito que quase tenho inveja! Da escolha da Emily!!!! ;)


domingo, maio 04, 2008

Alerta de novo trânsito astrológico

Vivificação do humor

04/05 (hoje) às 7h28 a 21/05 às 0h06
Marte em sextil com Lua natal


Bom humor e boa disposição social tendem a ser a tônica do período que vai dos dias 04/05 (hoje) às 7h28 e 21/05 às 0h06 para você, Anabel. Marte estará formando um ângulo estimulante e harmonioso à sua Lua de nascimento, e isso costuma dar uma dinamizada à vida emocional do indivíduo. Cores mais leves passam a tonificar o seu emocional, e este não é apenas um momento socialmente interessante como, sobretudo, tende a ser uma fase de reações emocionais positivas.

É curioso observar, Anabel, como muitas vezes passamos dias, às vezes até meses e anos mergulhados numa chateação ou ressentimento. Remoemos aquilo, até que de repente - bum! - a coisa passa. Em geral, são nos ciclos positivos de Marte com a Lua que a pessoa simplesmente "espana a poeira" e se livra de emoções chatas que não lhe servem mais. E este momento, para você, é agora!

Daí a importância de, neste momento, conhecer gente nova, permitir-se trocar emoções com os outros, fazer coisas que lhe dão prazer. É um bom momento para o intercâmbio de sentimentos, para a expressão das emoções, sobretudo com as pessoas mais íntimas, da família, os amigos mais chegados, ou os amores.

sábado, maio 03, 2008

Ciclo

Convexos e côncavos se encontram, se encaixam, se preenchem, se vão côncavos e convexos...

Anabel

quinta-feira, maio 01, 2008

Imprópria

Não sou musa de cinema pornô,
Meus pelos pubianos extravasam da calcinha,
Meu peito não tem silicone.
No meu movimento, não busco o melhor ângulo para uma câmera,
ondulo com o prazer.
Minha buceta e meu cú pulsam com meu coração e minha boca,
meus fluidos se esparramam com minha alma.
Meus gemidos são de fêmea em êxtase,
não de boneca em chamas.
Meu tesão é selvagem.
Não me empresto.
Me dou.
Pra quem quero dar.
Minha dança é esquisita.

Anabel

quarta-feira, abril 30, 2008

tudo é possível
tudo é possivel

Ferreira Gullar

Nada vos oferto
além destas mortes
de que me alimento

Caminhos não há
Mas os pés na grama
os inventarão

Aqui se inicia
uma viagem clara
para a encantação

Fonte, flor em fogo,
que é que nos espera
por detrás da noite?

Nada vos sovino:
com a minha incerteza
vos ilumino


GULLAR, Ferreira. “Sete poemas portugueses” Nº4. In: Toda poesia. 1950-1980. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. P.18.
Site do Ferreira Gullar


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Vira e mexe reverbera em mim esse poema... toda vez que bate aquela sensação de "caminhos não há". Me faz abrir um sorriso e continuar inventando caminhos no Aqui.

domingo, abril 27, 2008

Tão sábio o que o Edson, comentou sobre a confusão de idéias no título da canção "O medo de amar é o medo de ser Livre"! Tanto que acabei trazendo nossa conversa pra cá, pra compartilhar, e ter mais espaço pra escrever.
Concordo com ele, "só quem é livre pode amar de verdade", mas também só pode ser livre e viver o prazer de sê-lo quem ama. A si mesmo, ao outro, à humanidade, ao universo, à vida e seus ciclos.
Estava tentando imaginar alguém realmente livre sem amor, e acabei pensando em psicopatas! :P Mas psicopatas são escravos de suas obsessões...
Ser livre e escolher amar...
Acabei (já principiando) em Walt Whitman, Isadora Duncan, Anais Nin, Henry Miller, Sartre, Simone de Beauvoir, Osho, Lao Tse. Livres. Amorosos. Profundamente amorosos na sua escolha da liberdade. Profundamente comprometidos.
Confundir liberdade e descompromisso é uma outra coisa muito comum, que só conforme se amadurece na construção da liberdade, vai se esclarecendo. Tenho visto muita gente se perdendo de si (como dizia meu querido Luiz) por não ter coragem de se comprometer, nem mesmo consigo.
Compromisso é uma palavra muito saturada de conceitos negativos hoje em dia. Os dicionários não dão muitas opções encantadoras (pelo menos não os que eu já consultei!). Parece que a gente tá falando de padres, véus, grinaldas, gravatas, máfia, dívidas. E não de vínculos de nutrição e acolhimento, continuidade, confiança, cumplicidade, ressonância. Mas volto a esse assunto num outro momento.

Lembrei que naquele tempo era costume usar como título das canções a primeira frase delas:
"O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar
onde o justo estiver"
Talvez se tivesse ficado apenas "O medo de amar é o medo de ser", ficasse mais claro que oposto ao amor não é o ódio, a raiva, ou a maldade, mas o medo*! O medo que enregela e paralisa, descompassa a freqüência do tambor do coração. E a pulsação fica fraca, não entra em ressonância com facilidade. Precisa de cuidado e carinho pra entrar em ressonância com outros tambores. Tambores que curam tambores. Coisas de pajelanças.

Ainda bem que estamos sempre em construção!
(preciso dormir)

Beijo,

Anabel


*Percebi isso com o Gabriel, que me ajudou a retomar o caminho dos meus pés, e a sentir o universo de uma perspectiva tântrica.

sábado, abril 26, 2008

O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre

Beto Guedes & Fernando Brant

O medo de amar é o medo de ser

Livre para o que der e vier

Livre para sempre estar
onde o justo estiver

O medo de amar é o medo de ter

De a todo momento escolher

Com acerto e precisão
a melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar
Prá ficar
O medo de amar é não arriscar

Esperando que façam por nós

O que é nosso dever: recusar o poder

O sol levantou mais cedo e cegou

O medo nos olhos de quem foi ver
Tanta luz

http://cifraclub.terra.com.br/cifras/beto-guedes/o-medo-de-amar-o-medo-de-ser-livre-gkj.html
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Esses mineiros... agora dei de ouvir aquelas velhas eternas músicas de outro jeito. Por exemplo:
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder
Hoje escuto/leio/sinto isso de um ponto de vista muito mais pessoal, não mais como um libelo de resistência política apenas. Agora entendo recusar o poder como um exercício de consciência e recusa do poder que a gente exerce através do orgulho, da rigidez, da frieza (às vezes travestida de um jeito blazé, tá tudo bem comigo, vc que tá encanado) esperando que o outro ceda, adivinhe, venha, prove que somos importantes, amados, queridos, que estamos certos, "e se não vier que se dane, eu sou assim". É mais fácil ficar em segurança na própria fortaleza, que arriscar se expor desarmado, frágil, querendo o outro. É mais fácil se anestesiar com internet, fumaças, álcool, tv, e fingir que nada está acontecendo, não é comigo. Medo de arriscar, de aventurar-se no desconhecido, e se perder no outro por não controlá-lo, e não ter mais contrôle ao se expor assim tão sem defesa. Medo de ter de a todo momento escolher com acerto e precisão a melhor direção. Medo de ser surpreendido, de ser surpreendente, de se surpreender consigo mesmo. Medo de não ter nome pro que sente.
Quando se trata de um relacionamento a dois, esse exercício deveria ser recíproco, não é? Em geral, um só faz esse movimento quase todas as vezes, até não sobrar mais energia pra chamar o outro atrás do muro da casa fechada que é só dele.

Aí levanta mais cedo o sol, querendo entrar pra ficar na casa fechada, que é nossa, e cegar o medo de quem for ver tanta luz. Que será que isso quer dizer? O que você sente quando ouve isso? ;)

Anabel
"É bom adotar a prática diária de meditar sobre a repetição do ato de desenredar a natureza da vida-morte-vida. O pescador entoa uma canção de um único verso, que repete para ajudar na tarefa de desembaraçar a linha. Trata-se de uma canção para propriciar a percepção, para auxiliar na soltura da natureza da Mulher-esqueleto. Não sabemos o que ele está cantando. Só podemos tentar adivinhar. Quando estivermos soltando essa natureza, seria bom que cantássemos algo mais ou menos assim: Ao que eu preciso dar mais morte hoje, para gerar mais vida? O que eu sei que precisa morrer mas hesito em permitir que isso ocorra? O que precisa morrer em mim para que eu possa amar? Qual é a não-beleza que eu temo? Que utilidade pode ter para mim hoje o poder do não-belo? O que deveria morrer hoje? O que deveria viver? Qual vida tenho medo de dar à luz? Se não for agora, quando?"


in Mulheres que correm com os lobos
, Clarissa Pinkola Estés, p.190


quinta-feira, abril 24, 2008

Dicotomia

Tem dias em que a dúvida é cruel: satisfazer o desejo do corpo, ou persistir na busca do que minha alma sussurra e meu coração confirma ser necessário - uma mudança?
Satisfazer o desejo do corpo com o coração entreaberto, não será de fato uma satisfação. Ao contrário, o desejo cresce, porque não atinge a profundidade do que o corpo pede, já que o corpo não é só matéria, mas todos os fluidos e freqüências emocionais. Fica na superfície. Gera ainda mais insatisfação.
Persistir na busca da mudança também gera rigidez. A mudança só vem quando se está com o espaço aberto pra que ela ocorra. Então não adianta fazer força pra virar o timão de vez. Tenho que dar o tempo da maturação se realizar pra mudar. Dar o tempo do redemoinho acalmar, ou me expulsar. No fim, trata-se de mais um desejo.
Quanta ilusão! Parece até que a divisão existe!
Ah... Só com muita meditação!!!
E o corpo continua gritando.

Anabel

segunda-feira, abril 21, 2008

Rodopiando com Nasrudin


Doente, graças a Deus
Nasrudin, sentado na sala de espera do consultório médico, repetia em voz alta: "Espero que eu esteja muito doente", o que intrigava os outros pacientes. Quando o médico apareceu, Nasrudin repetia quase gritando: "Espero que eu esteja muito doente".
"Por que você diz isso?", perguntou-lhe o médico.
"Detestaria pensar que alguém que se sinta tão mal como eu não tenha nada."


Qual deveria ser a aparência de um pássaro?
Nasrudin encontrou um falcão exausto pousado no parapeito da janela.
Nunca antes havia visto um pássaro como aquele.
"Pobrezinho", disse, "como é que você foi acabar desse jeito?"
Aparou-lhe as garras, cortou-lhe o bico para que ficasse reto e desbastou-lhe a plumagem.
"Agora você se parece mais com um pássaro", disse Nasrudin.


in Khawajah Nasr Al-Din - Histórias de Nasrudin / Mullá Nasrudin; tradução de Mônica Udler Cromberg, Henrique Cukierman, RJ, Dervish, 1994


Nasrudin sempre instiga e ajuda a espiralar o pensamento! E me faz rir de mim mesma (e de todos nós!). Divirta-se com suas histórias.
Anabel

sábado, abril 19, 2008

Amar se Aprende Amando


O Mundo é Grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

(Carlos Drummond de Andrade in “Amar se Aprende Amando”)

Imagem: "Mulher à janela" por Salvador Dali



Esse aprendizado tão longo, do qual não se tira diploma, e sempre vem cheio de desafios, aventuras, desilusões, decisões. Amar num tempo de corações partidos...
É preciso ter coragem pra reconhecer as próprias feridas, acolher nosso "não-belo", nossa sombra, e permitir a morte daquilo que não nutre mais em nós, para dar espaço a novas possibilidades de ser. Assim também podemos acolher o outro com sua sombra, e atravessar muitas mortes e nascimentos juntos, sem a ilusão de que o amor só existe quando está todo mundo sorrindo como num comercial de banco (ou de margarina, como dizia a conselheira Francis). É preciso abrir nossa casa para que o outro entre. E é preciso ter a coragem também de entrar na casa do outro sem medo de nos perder, ou de perder nosso espaço, quando somos gentilmente convidados, e desejamos compartilhar uns tantos momentos de intimidade, cumplicidade, tornar-nos parceiros na vida, parceiros da vida.
Uma vez eu tive a experiência de ser mandada embora, indiretamente, o que foi terrível para o meu orgulho, mas depois compreendi as contradições daquela circunstância, e até pude visitar a casa com freqüência, mas admito que foi uma ferida cuja cicatriz ainda coça de vez em quando. Não é fácil acollher a sombra do orgulho ferido. Lambi e tratei a ferida, ela secou. Não vou fingir que não há nada lá, e ficar sorrindo e dizendo -está tudo óóóótimo! - num cinismo travestido de otimismo, só pra fazer tipo bacana. Mas, sim, já passou. Já passou. Ao final, foi um grande aprendizado sobre humildade e amor, e já perdi tantos aprendizados por orgulho! Falo desse orgulho que nos impede de olhar com outros olhos, os olhos do outro e sentir com o outro, desse que nos faz fincar o pé e não arredar da nossa convicção oca, diferente do orgulho daquilo que nos honra como seres humanos. Soberba. Vaidade. (De repente lembro do deleite do satan Al Pacino em "Advogado do Diabo" dizendo "A vaidade é meu pecado favorito"...) Rigidez. Então foi muito rico aquele momento tão sombrio, porque cresci com aquela dor. E ainda tenho muita vaidade pra trabalhar certamente. Mas não suporto perceber que alguém se envergonha de mim. Isso é demais. Aí, sigo o exemplo do Leão da Montanha.
Amar se aprende amando, como diz o poeta, e começa amando a nós mesmos, claro, senão de onde?

Anabel

segunda-feira, abril 14, 2008

Sobre escolhas e decisões...

14/04/2008 - 08h28

Experimento consegue "prever" decisão cerebral


da Folha de S.Paulo

As decisões atribuídas ao livre arbítrio humano podem ser formadas inconscientemente vários segundos antes de o cérebro tomar consciência delas. Essa é a conclusão defendida por um estudo publicado no domingo (13) pela revista "Nature Neuroscience". O trabalho se baseou em um experimento no qual voluntários tiveram seus cérebros monitorados por ressonância magnética.

No teste, elaborado por cientistas do Instituto Max Planck para Cognição Humana e Ciências Cerebrais, de Leipzig (Alemanha), pessoas tinham de decidir livremente por apertar um de dois botões em um controle. Ao mesmo tempo ficavam olhando uma seqüência de letras projetada numa tela, que não deveria influir na decisão. Os voluntários tinham apenas de dizer que letra estavam observando quando finalmente decidiam qual botão apertar.

Comparando o momento em que as pessoas se diziam conscientes de suas decisões com padrões de atividade cerebral registrados no aparelho de ressonância magnética, os cientistas tiraram sua conclusão.

"Descobrimos que o resultado de uma decisão pode ser codificado como atividade cerebral nos córtices pré-frontal e parietal [regiões na superfície do cérebro] até dez segundos antes de entrarem na consciência", escrevem os autores do estudo, liderado por John-Dylan Haynes.

"A impressão de que podemos escolher livremente entre duas possíveis linhas de ação é essencial para nossa vida mental. Contudo, é possível que essa experiência subjetiva de liberdade não seja mais do que uma ilusão e nossas ações sejam iniciadas por processos mentais inconscientes bem antes de tomarmos consciência de nossa intenção de agir."


in http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u391815.shtml

quarta-feira, abril 09, 2008

O peso de um desamparo que não era meu saiu. Foi numa constelação familiar:
Eu, prostrada em profunda gratidão, era minha mãe reverenciando minha avó, a Bugra, que morreu quando minha mãe tinha seis anos de idade, num dia 10 de abril. Como uma menina, compreendi que cada pessoa tem seu tempo, e deixar morrer é tão importante quanto viver. E a vida continuou.
Então tive o vislumbre de uma sucessão infinita de gerações de mulheres atrás de minha avó, cantando, cuidando, preparando o alimento, ao lado de fogueiras, sentadas no chão, na terra. Antes de minha avó todas as minhas avós, todas as minhas mães de mães.
Depois reverenciei minha mãe, e contei à minha avó que dera o nome de Vozes Bugras ao grupo (que foi uma idéia compartilhada com Nun e Luiz, descendentes como eu) em homenagem a ela, que carregava esse apelido. Ela sorriu com lágrimas nos olhos, e todas se ergueram, pousando a mão nas costas de sua descendente. Cada uma dando sua bênção, desde a mais remota ancestral até mim, e eu à minha filha.

Sou muito grata por esta vida que delas provém, e me orgulha muito herdar, a cada dia que aprendo a cuidar. Agora compreendo melhor minha mãe e seu sentimento de desamparo. Agora compreendo melhor a mim mesma, e as dimensões que ser Eu mesma abrange. Compreendo melhor a dádiva da intuição, que talvez minha mãe não tenha podido reconhecer por conta das circunstâncias, como bênção de mulher para mulher. A bênção de confiar em nossa voz interior, e apreender num instante o que levaria muito tempo para explicar racionalmente.

Anabel
Foto "Índia Bororo, Mato Grosso" de Heinz Foerthmann, 1943. (www.museudoindio.org.br)

terça-feira, abril 08, 2008

OS DOMINGOS PRECISAM DE FERIADOS

Por Rabino Nilton Bonder


Toda sexta-feira à noite começa o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso divino, no sétimo dia da Criação.


Muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.


Para um mundo no qual funcionar 24 horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.


Hoje, o tempo de 'pausa' é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações 'para não nos ocuparmos'. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.


O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições. Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo..


Entramos no milênio num mundo que é um grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só pode parar no fim.


Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado...


Nossos namorados querem 'ficar', trocando o 'ser' pelo 'estar'. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI - um dia seremos nossos?


Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos...


Parar não é interromper. Muitas vezes continuar é que é uma interrupção.


O dia de não trabalhar não é o dia de se distrair - literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de ser atencioso consigo e com sua vida. A pergunta que as pessoas se fazem no descanso é 'o que vamos fazer hoje?' - já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de 120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo.


Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande 'radical livre' que envelhece nossa alegria - o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.


Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares. A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo terminou e quando algo vai começar.


Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada seja dá-lo como concluído.

Imagem: Are you jealous? by Paul Gauguin

sábado, abril 05, 2008


Às vezes é tão evidente que certos caminhos não dão em lugar nenhum, e mesmo assim eu continuo fingindo pra mim mesma que basta deixar rolar, as coisas são o que são, são como são, e que tais... Minto pra mim, tô jogando meu tempo fora, tô brincando de "tá tudo bem", tô tentando ser boazinha, legalzinha, bacaninha, bonitinha. Que bobagem, vestir lobos com pele de carneiro, bruxas com vestido de princesa! Melhor ler meu livro e dormir.

domingo, março 30, 2008

Uma última palavra

Foto de Alessandra de Souza, do espetáculo "Cara-Pálida", de Umberto da Silva, no Teatro da Dança, fev/2008

Eu já conhecia e dançava com Maria Mommensohn. A Maria já me apresentara Laban, Maria Duschenes, e me abrira os olhos pra dançar a escuridão. Dançar como um candeeiro nos subsolos e marginais, com meus companheiros de Cristal e, mais tarde, Paris 68, Claudinei Roberto e Sueli Andrade. Anos 80.
Vi Denilto Gomes dançar Serra dos Órgãos, com ossos de animais, cordas, vestido de noiva, estourando sem parar aqueles balões todos, com os olhos borrados de rímel, uma dor de quem busca o que nunca... o que sempre... o que antes.
Quando vi "Tristão e Isolda" no CCSP, as cadeiras do público formavam um círculo no palco. Achei interessante, o que virá? Ana Mondini e Umberto da Silva corriam, beijavam-se, e moviam-se entre nós, comovendo-nos até as lágrimas com a trágica história de amor. Sensações corporais, os olhares, o tônus, os toques, nada óbvio e descritivo sobre a estória.
Dança teatro. Pensei: preciso ver mais coisas desses caras!
No TBD encontrei Ana dançando filosofia deixando seu rastro na areia, Raul Rachou falando de Epicuro a Aristóteles e dança contemporânea, e Umberto dando um workshop do processo de criação de Pina Bausch. Quantas possibilidades!
No workshop, improvisações com animais, atitudes, e escolhas de partes do corpo, desembocavam em frases de movimento muito intensas e pessoais.
Também foi por essa época que conheci o Stênio Mendes numa oficina de Percussão Vocal, lá na 3 Rios. E descobri outras possibilidades da música e do corpo. Ressonâncias, harmônicos.
Maria Fux dançando raizes, pontos, linhas, perguntas, o silêncio.
E um dia fui, desavisada, trabalhar na Oficina, substituindo Maria, e me deparei com Penha de Souza e as espirais do corpo, do universo, contrações e releases vindos de Martha Graham.
Início dos anos 90.
Até hoje essas referências são muito vivas em minha arte. Muitas influências vieram depois, em especial Cláudia de Souza, Takao Kuzuno, Zvi Gotheiner. Mas vem de lá o dançar com as vísceras sem ser enforcada por elas, movimentos peristálticos da alma, como talvez diria o Claudinei.

Quinta-feira passada morreu Umberto. Coração parou.
Lembrei desses encontros às vezes de tão curta duração, que nos sinalizam novas perspectivas pro resto da vida. Outros de longa duração, que mudam nosso DNA, e parecem sumir sem deixar rastros.
Do Umberto, alguns momentos me vieram à memória. Em encontros casuais, em filas de teatro, ele saudando Alex e eu pelo apelido que nos deu - casal 20 - sempre caloroso. Morando temporariamente, quando chegou da Alemanha, no apto que a Maria alugara como estúdio e a conversa existencialista que tivemos naquela manhã...
Recentemente, como Coordenador de Dança na SMC, o reencontrei na entrevista do Projeto Dança Vocacional, e na primeira reunião do núcleo de que participo. Nessa reunião eu lhe falei do quanto foi importante conhecê-lo, o quanto aquele momento reverbera até hoje em meu fazer-pensar-sentir artístico, "até hoje uso aquelas propostas que aprendi com você!" Depois comentava com uma amiga íntima, como é gostoso encontrar as pessoas que nos dão referências fundamentais, e poder demonstrar gratidão na maior simplicidade e cara de pau. E agora penso: que urgente.
Minha gratidão por toda a eternidade, a cada um de vocês.
Grata, Umberto, mais uma vez. E a Yolanda Verdier, que como você mesmo lembrou, foi uma mulher muito engajada, e mais do que balé, propagava atitude.
Grata, grata, grata.

Anabel

Foto de Gal Oppido: Serra Dos Órgãos, 1990 - Coreografia/Interpretação:Denilto Gomes (pb)
Fotos de João Caldas:
Serra dos Órgãos IV, 1992 - Coreografia/Interpretação:Denilto Gomes (colorida)
Stress Sob as Estrelas, 1992 - Coreografia/Interpretação:Umberto da Silva, Ana Mondini

sábado, março 29, 2008


Estava lendo a lenda do Barba Azul¹, e lembrando que quando eu era criança e a conheci, provavelmente na versão de Charles Perrault, achei que quem tinha feito a coisa errada era a esposa, ao desrespeitar o aviso que ele lhe dera sobre não usar "aquela" chavinha especial, apesar de torcer para que ela escapasse do destino fatal que a aguardava...
Só agora compreendi o significado que essa estória encerra! O jogo que ele fazia com todas as esposas que tivera, era justamente o de seduzí-las com esse aviso, para então matá-las. Mataria de todo jeito, pois um palácio, por maior que seja, é ainda uma gaiola, se dele não se pode sair; e ficar à vontade nele, desde que não se tenha a curiosidade de conhecer seus mistérios, é o mesmo que estar mais ou menos livre... Mais ou menos livre? Ter a ilusão de ser livre, quando na verdade se é prisioneira. Morta em sua autonomia.
Se ela não abre a porta com a chave misteriosa, fica domesticada, sempre obediente e passiva, afasta-se dos instintos e perde o contato com seu Eu profundo: faz o que é certo, o que é melhor para seu amo, para sua reputação, para os outros.
Se abre a porta, se depara com os ossos das mulheres assassinadas, contempla todo o horror oculto no suntuoso palácio, e tem que suportar a visão, encarar as sombras. Mas também desperta da atitude ingênua do "não é tão mau assim", e com a chave do mistério, pode livrar-se do predador que lhe preparou tal armadilha. Fica mais astuciosa, volta a acreditar naquela voz que no primeiro encontro lhe disse "há algo muito estranho e tenebroso por trás dessa barba-azul", e que depois se ilude com algumas cintilâncias e demonstrações de gentileza, que não passavam de manobras de sedução para a morte certa. E volta a tomar posse de sua alma, se reincorpora, entra em seu próprio corpo novamente. Fica mais dona de si.
Penso que a maioria das mulheres já deve estar associando o Barba Azul com alguém que passou por sua vida... e eles existem! Mas o Barba Azul mais perigoso, o que mata nosso desejo de ir até o fim nas nossas investigações da vida, em nossos projetos, seguir nossas intuições, agir de acordo com nossos anseios mais profundos, e não em função do que dirão por aí, o que vão pensar, com deve comportar-se uma donzela, e que tais, mora dentro de nós. E só ao encarar o que há nos nossos porões sombrios, reconhecendo nossos aspectos assassinados, conseguimos de fato nos reapropriar de nosso corpo/alma. Resgatar nossa verdadeira identidade.
Não há chavezinha reluzente que possa trancar por toda uma existência aquilo que foi negado e anulado na construção do nosso ser. Não há riqueza, magia, aparências de felicidade e bem estar, que possam cobrir os ossos - "aquilo que não pode nunca ser destruído"²- de nossas mortes, nossas frustrações.
Para abrir a porta, além da curiosidade, é preciso coragem. Coragem para desobedecer, coragem para encarar o que quer que esteja atrás daquela porta, coragem para sustentar-se reconhecendo o que há na escuridão, coragem para enganar o predador que nos castra a alma dizendo - até aqui já é suficiente, melhor não dar mais um passo, seja uma boa moça, não seja curiosa! -, e buscar apoio nas irmãs, acenar para os irmãos que nos habitam, e os que nos rodeiam, nossos anseios profundos, sonhos que ainda clamam por relização, amigos, nossa confiança em nossos instintos, em nossa intuição, em nós mesmas, e no poder da mulher. Coragem para descobrir e ser quem Eu realmente sou.
Afinal, se aquela porta não devesse de fato ser aberta, por que o Barba Azul deixaria sua chave no molho, junto com tal recomendação, ao invés de levá-la consigo em silêncio? (Como eu demorei para compreender isto!!!!!!!!!)

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Transcrevo a lenda segundo conta Clarissa Pinkola Estés¹, mas vale a pena ler o livro e ter um seu: emprestado, você vai relutar em devolver, e vai ficar chato... Algum dia, em algum momento, em fragmentos, ou de cabo a rabo, ele gritará para que você o leia, releia, folheie, use como inspiração, símbolo, farol, travesseiro... Sua intuição dirá: é agora.


"Existe uma mecha de barba que fica guardada no convento das freiras brancas nas montanhas distantes. Como chegou até o convento, ninguém sabe. Uns dizem que foram as freiras que enterraram o que sobrou do seu corpo, já que ninguém mais se dispunha a nele tocar. Desconhece-se o motivo pelo qual as freiras iriam guardar uma relíquia dessa natureza, mas é verdade. Uma amiga de uma amiga minha viu com seus próprios olhos. Ela diz que a barba é azul, da cor do índigo para ser exata. É tão azul quanto o gelo escuro no lago, tão azul quanto a sombra de um buraco à noite.Essa barba pertenceu um dia a alguém de quem se dizia ser um mágico fracassado,um homem gigantesco com uma queda pelas mulheres, um homem conhecido pelo nome de Barba-azul.
Dizia-se que ele cortejava três irmãs ao mesmo tempo. As moças tinham, porém, pavor de sua barba com aquele estranho reflexo azul e, por isso, se escondiam quando ele chamava. Num esforço para convencê-las da sua cordialidade, ele as convidou para um passeio na floresta. Chegou conduzindo cavalos enfeitados com sinos e fitas cor-de-carmim. Acomodou as irmãs e a mãe nos cavalos, e partiram a meio-galope floresta adentro. Lá passaram um dia maravilhoso cavalgando, e seus cães corriam a seu lado e à sua frente. Mais tarde, pararam debaixo de uma árvore gigantesca, e o Barba-azul as regalou com histórias e lhes serviu guloseimas.

“Bem, talvez esse Barba-azul não seja um homem tão mau assim”, começaram a pensar as irmãs. Voltaram para casa tagarelando sobre como o dia havia sido interessante e como haviam se divertido. Mesmo assim, as suspeitas e temores das duas irmãs mais velhas voltaram, e elas juraram que não veriam o Barba-azul de novo. A irmã mais nova, no entanto, achou que, se um homem podia ser tão encantador, talvez ele não fosse tão mau. Quanto mais ela falava consigo mesma, menos assustador ele lhe parecia, e sua barba também parecia ser menos azul. Portanto, quando o Barba-azul pediu sua mão em casamento, ela aceitou. Ela havia refletido muito sobre a sua proposta e concluído que ia se casar com um homem muito distinto. Foi assim que se casaram e, em seguida, partiram para seu castelo no bosque.
— Vou precisar viajar por algum tempo — disse ele um dia à mulher. — Convide sua família para vir aqui se quiser. Você pode cavalgar nos bosques, mandar os cozinheiros prepararem um banquete, pode fazer o que quiser, qualquer desejo que seu coração tenha. Para você ver, tome minhas chaves. Pode abrir toda e qualquer porta das despensas, dos cofres, qualquer porta do castelo; mas essa chavinha, a que tem no alto uns arabescos, você não deve usar.
— Está bem, vou fazer o que você pediu. Parece que está tudo certo. Portanto,
pode ir, meu querido, não se preocupe e volte logo. — E assim ele partiu, e ela ficou. Suas irmãs vieram visitá-la e elas sentiam, como todo mundo, muita curiosidade a respeito das instruções do dono da casa quanto ao que deveria ser feito enquanto ele estivesse fora. A jovem esposa falou alegremente:
— Ele disse que podemos fazer o que quisermos e entrar em qualquer aposento que desejarmos, com exceção de um. Só que eu não sei qual é esse aposento. Só tenho uma chave e não sei que porta ela abre. As irmãs resolveram fazer um jogo para ver que chave servia em que porta. O castelo tinha três andares, com cem portas em cada ala, e como havia muitas chaves no chaveiro, elas iam de porta em porta, divertindo-se imensamente ao abrir cada uma delas. Atrás de uma porta, havia uma despensa para mantimentos, atrás de outra, um depósito de dinheiro. Todos os tipos de bens estavam atrás das portas, e tudo parecia maravilhoso o tempo todo. Afinal, depois de verem todas aquelas maravilhas, elas acabaram chegando ao porão e, ao final do corredor, a uma parede fechada. Ficaram intrigadas com a última chave, a que tinha o pequeno arabesco.
— Talvez essa chave não sirva para abrir nada. — Enquanto diziam isso, ouviram um ruído estranho — errrrrrrrr. — Deram uma espiada na esquina do corredor e — que surpresa! — havia uma pequena porta que acabava de se fechar. Quando tentaram abri-la, ela estava trancada. — Irmã, irmã, traga sua chave — gritou uma delas. — Sem dúvida é essa a porta para aquela chavinha misteriosa. Sem pestanejar, uma das irmãs pôs a chave na fechadura e a girou. O trinco rangeu, a porta abriu-se, mas lá dentro estava tão escuro que nada se via. — Irmã, irmã, traga uma vela. — Uma vela foi acesa e mantida no alto um pouco para dentro do aposento, e as três mulheres gritaram ao mesmo tempo, porque no quarto havia uma enorme poça de sangue; ossos humanos enegrecidos estavam jogados por toda a parte e crânios estavam empilhados nos cantos como pirâmides de maçãs. Elas fecharam a porta com violência, arrancaram a chave da fechadura e se apoiaram umas nas outras arquejantes, com o peito arfando. Meu Deus! Meu Deus! A esposa olhou para a chave e viu que ela estava manchada de sangue. Horrorizada, usou a saia para limpá-la, mas o sangue prevaleceu. — Oh, não! — exclamou. Cada uma das irmãs apanhou a chave minúscula nas mãos e tentou fazer com que voltasse ao que era antes, mas o sangue não saía. A esposa escondeu a chavinha no bolso e correu para a cozinha. Quando lá chegou, seu vestido branco estava manchado de vermelho do bolso até a bainha pois a chave vertia lentamente lágrimas de sangue vermelho-escuro. — Rápido, rápido, dê-me um esfregão de crina — ordenou ela à cozinheira. Esfregou a chave com vigor, mas nada conseguia deter seu sangramento. Da chave minúscula transpirava uma gota após outra de sangue vermelho. Ela levou a chave para fora, tirou cinzas do fogão a lenha, cobriu a chave de cinzas e esfregou mais. Colocou-a no calor do fogo para cauterizá-la. Pôs teia de aranha nela para estancar o fluxo, mas nada conseguia deter as lágrimas de sangue. — Ai, o que vou fazer? — lamentou-se ela. — Já sei, vou guardar a chave. Vou colocá-la no guarda-roupa e fechar a porta. Isso é um pesadelo. Tudo vai dar certo. — E foi o que fez. O marido chegou de volta exatamente na manhã do dia seguinte e entrou no castelo já procurando pela esposa. — E então, como foram as coisas enquanto eu estive fora? — Tudo correu bem, senhor. — Como estão minhas despensas? — trovejou o marido. — Muito bem, senhor. — E como estão meus depósitos de dinheiro? — rosnou ele. — Os depósitos de dinheiro também estão bem, senhor. — Então, tudo está certo, esposa? — É, tudo está certo. — Bem — sussurrou ele —, então é melhor devolver minhas chaves. Com um relancear de olhos, ele percebeu a falta de uma chave. — Onde está a menorzinha? — Eu... eu a perdi. É, eu a perdi. Estava passeando a cavalo, o chaveiro caiu e eu devo ter perdido uma chave. — O que você fez com ela, mulher? — Não... não me lembro. — Não minta para mim! Diga-me o que fez com aquela chave!
Ele tocou seu rosto como se fosse lhe fazer um carinho, mas em vez disso a segurou pêlos cabelos. — Sua traidora! — rosnou, jogando-a ao chão. — Você entrou naquele quarto, não entrou? Ele abriu o guarda-roupa com brutalidade e a pequena chave na prateleira de cima havia sangrado, manchando de vermelho todos os belos vestidos de seda que estavam pendurados. — Chegou a sua vez, minha querida — berrou ele, arrastando-a pelo corredor e pelo porão adentro até pararem diante da terrível porta. O Barba-azul apenas olhou para a porta com seus olhos enfurecidos, e ela se abriu para ele. Ali jaziam os esqueletos de todas as suas esposas anteriores. — Vai ser agora!!! — rugiu ele, mas ela se agarrou ao batente da porta sem largar, implorando por clemência. — Por favor, permita que eu me acalme e me prepare para a morte. Conceda-me quinze minutos antes de me tirar a vida para que eu possa me reconciliar com Deus. — Está bem — rosnou ele. — Você tem seus quinze minutos, mas prepare-se. A esposa correu escada acima até seus aposentos e determinou que suas irmãs fossem para as muradas do castelo. Ajoelhou-se para rezar, mas, em vez de rezar, gritou para as irmãs. — Irmãs, irmãs, vocês estão vendo a chegada dos nossos irmãos? — Não vemos nada, nada na planície nua. A cada instante ela gritava para as muradas. — Irmãs, irmãs, estão vendo nossos irmãos chegando? — Vemos um redemoinho, talvez um redemoinho de areia bem longe. Enquanto isso, o Barba-azul esbravejava para que sua esposa descesse até o porão para ser decapitada. — Irmãs, irmãs! Estão vendo nossos irmãos chegando? — gritou ela mais uma vez. O Barba-azul berrou novamente pela esposa e veio subindo a escada de pedra com passos pesados. — Estamos, estamos vendo nossos irmãos — exclamaram as irmãs. — Eles estão aqui e acabam de entrar no castelo. O Barba-azul vinha pelo corredor na direção dos aposentos da esposa. — Vim apanhá-la — gritou ele. Suas passadas eram pesadas; as pedras no piso se soltavam; a areia da argamassa caía esfarinhada no chão. No instante em que o Barba-azul entrou nos aposentos com as mãos esticadas para agarrá-la, seus irmãos chegaram galopando pelo corredor do castelo ainda montados, entrando assim no quarto. Ali eles encurralaram o Barba-azul fazendo com que saísse até a balaustrada. E ali mesmo, com suas espadas, avançaram contra ele, golpeando e cortando, fustigando e retalhando, até derrubá-lo ao chão, matando-o afinal e deixando para os abutres o que sobrou dele."³


E lembre-se: só não use esta chave!!!! ;)

Anabel Andrés


¹ in "Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem", de Clarissa Pinkola Estés, RJ, Ed. Rocco, 1994
² ídem, p.80
³ ibídem, p.58-63