sábado, janeiro 20, 2007


Tantra


Ao toque firme e terno os músculos respondem, se soltam, expandem-se, e a coluna vai liberando a passagem dos impulsos nervosos, após sonoros estalos indicando que as vértebras retomaram seu lugar. Formiga a base da coluna, - o sacro não tem esse nome por acaso - um calor sobe, desce, e se espalha, uma pulsação intensa se alastra por todas as partes do corpo. A respiração se aprofunda, forço demais, começam os efeitos da hiperventilação. Suavizo, atendendo à cálida orientação. Outro rítmo. Me amplio e recolho à medida em que choro até a última gota daquela nota daquele acorde dissonante, por tanto tempo aprisionada no meu peito. Parece que tem uma pedra lá no fundo, e dói muito alcançá-la. Mas vou respirando. Absorvo suas palavras: suave, suave, sem esforço. Minha alma se dilata, acolho emoções exiladas. Sobe uma lufada quente que se expande como o cogumelo atômico na região dos olhos. Parece que vou ver tudo diferente depois desta experiência (mas aí já estou criando expectativas...). Não quero entender agora. Quero deixar acontecer, deixar sair essa cúmulus nimbus que tava congelada lá nas fibras do coração. Quero colo. Ganho colo, abraço, embalo, e uma voz terna dizendo "eu sei, eu sei", cheia de compreensão. Choro e choro de soluçar. Ah, que bom poder chorar assim! Dá um prazer tão grande chorar como criança, que de repente me pego rindo! Ahahahahah, que delícia! Rio e sinto a barriga solta desde o púbis, desde a vagina. Um riso ressoando em lábios grandes e pequenos. E no peito aberto. No pescoço. Em toda parte!
Me acalmo. Espreguiço. Eu faço parte! Sinto isso do fio de cabelo até a unha do pé. Estou inteira. Bocejo. Bocejo muito. É bom estar viva. É bom ser apenas eu. Mesmo que daqui a pouco eu precise de novo botar a armadura, estou mais folgada dentro dela... já posso me mover melhor. Daqui a um tempo posso até deixar de usar... aos poucos ela desmancha, derrete. Eu brilho!

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